Moradores de Itinga, 160 jovens receberam no mês passado a certificação de cursos profissionalizantes de auxiliar administrativo, manicure, maquiador e técnico de vendas. A cerimônia foi promovida pelo Programa Corra pro Abraço, na escola municipal Dois de Julho. Os cursos representam a possibilidade concreta de iniciar uma carreira num cenário de falta de perspectiva profissional de quem vive sob risco social.
FOTO: Trícia Calmon: “uma mãe falou que um folder do programa salvou a vida do filho dela. Não há nada mais gratificante do que isso”.
A realização da cerimônia na semana em que se comemora o Dia da Consciência Negra – 20 de Novembro – não foi mera coincidência. De acordo com o governo, praticamente 100% do público do Corra é negro. O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra é uma referência ao líder negro Zumbi dos Palmares, falecido neste mesmo dia, em 1695. Ele foi um símbolo da luta e resistência dos negros escravizados no país.
Pensado pela Secretaria da Justiça e Direitos da Bahia, o “Corra”, como é chamado pelos profissionais que atuam no programa e também pelos participantes – tem tido êxito ao envolver jovens de bairros populares em situação de vulnerabilidade social de Lauro de Freitas e Salvador em ações de arte-educação mescladas com instrumentos de desenvolvimento de habilidades para a vida.
“A certificação é uma atividade que consideramos a culminância de todo um processo”, disse Trícia Calmon, coordenadora do programa – “começamos trabalhando com população de rua e esse grupo nos mostrou a trajetória que leva alguns para fora do seio familiar”. Agora o programa busca atuar na prevenção, para evitar esse tipo de ocorrência. “Uma vez, uma mãe falou que um folder do programa salvou a vida do filho dela”, contou – e “não há nada mais gratificante do que isso”.
Apresentação do grupo Legião Itinga
Não se trata apenas de capacitação. A iniciativa dá outras ajudas para que os participantes ingressem, de fato, no mercado de trabalho, a exemplo de kits profissionais que foram entregues ao final da cerimônia para cada formando. Esses materiais facilitam o início imediato da prática profissional em cada um dos cursos nos quais se formaram os jovens, inclusive de modo autônomo. Além disso, a equipe do programa faz o encaminhamento dos formandos para o Serviço de Intermediação de Mão de Obra, o Sine Bahia, dando acesso a outros cursos.
A noite da cerimônia foi marcada também por uma performance cênica do grupo Legião Itinga, que trabalha a lógica do teatro do oprimido e conta com jovens residentes da comunidade. “É bom ressaltar que esse grupo, assim como outros que testemunhamos, foi formado a partir da vivência desses jovens durante a participação no programa”, contou Trícia Calmon.