Projeto de agrofloresta ajuda na recuperação da Mata Atlântica

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Projeto existe há 20 anos e ajuda na recuperação da Mata Atlântica

Viver uma experiência sustentável e conectada com a natureza é a meta de vida de muitas pessoas e um pequeno projeto de agrofloresta, localizado há poucos quilômetros do aeroporto de Salvador, tem provado que a meta é possível.

Situado em Vila de Abrantes, divisa dos municípios de Lauro de Freitas e Camaçari, o Eco Ciclos é um sítio de troca de experiências, pautado na agricultura sustentável e no sistema de agrofloresta. A ideia nasceu há 20 anos, da iniciativa do hoje PHD em Biologia, Eric Gornik Oliveira. “O projeto surgiu da necessidade da criação de um espaço de experiência e estudos na recuperação de áreas degradadas. A ideia era unir a segurança alimentar e a busca da espiritualidade através do contato com a natureza”, contou.

Vivendo experiências anteriores no Acre e em Itacaré, sul da Bahia, Eric percebeu que a escolha de um lugar com fácil acesso aos centro urbanos, garantiria a possibilidade de continuar mantendo sua empresa de consultoria ambiental, além de permitir a construção um espaço onde as pessoas pudessem comparecer, por exemplo, para uma jornada de final de semana.

Mas apesar de possuir uma base teórica consistente por suas formações em ciências biológicas, meio ambiente e tecnologias limpas, a manutenção do projeto não é algo simples e requer, sobretudo, paciência. “Recuperar o solo é um processo trabalhoso e de longa duração. Diferentemente dos sistemas agrícolas atuais, onde o solo é ‘corrigido’ com nutrientes (insumos) externos como NPK ou reguladores de pH como o calcário. A agrofloresta segue princípios orgânicos de auto regeneração do solo, desta forma, mais etapas são necessárias e ainda não existe maquinário específico para facilitar as atividades. Assim, demoramos mais tempo para ter uma produção e com custo de mão de obra elevado, em contrapartida, criamos um solo rico e biodiverso que potencializa as relações ecológicas do sistema e gera abundância a longo prazo, para humanos e a natureza”.

Natural de Salvador, Eric conta que iniciou ‘na cara e na coragem’, errando muito mais que acertando. Ele havia acabado de entrar na faculdade, com 18 anos, e além de, à época, ser um local isolado e perigoso, foi necessário investir muito dinheiro e num primeiro momento contou com a ajuda de seu pai e seu padrinho. “Quando comecei, a maior parte do sítio era pastagem, ‘pasto sujo’, com arvoredos e arbustos de recuperação e algumas frutíferas na parte de baixo do vale, especialmente dendê e jaqueiras. Havia alguns pequenos fragmentos, isolados, de mata atlântica em estágio inicial de recuperação”.

Os anos foram passando e o sítio já dá sinais de recuperação. Mas Eric acredita que as pessoas também mudaram ao longo dos anos. Segundo ele existe mais procura pela construção de uma relação harmônica entre as pessoas e o meio ambiente, e hoje, com a decadência dos ativos biológicos, perda da biodiversidade, desertificação dos solos e poluição dos rios e mares, testemunhamos um novo despertar ecológico.

“Estamos vivenciando as consequências ambientais das escolhas erradas que fizemos por décadas e décadas, e com isso novos indivíduos surgem na luta por uma ecologia real e sustentável, criando agentes ativos, de todas as idades e estratos sociais, na busca de meios de produção menos danosos e métodos de plantio que sejam sustentáveis”.

Ele frisa ainda que por mais que o ser humano tente criar um mundo paralelo, uma realidade virtual ou uma vida eletrônica, não é possível se desassociar do planeta que vive. “Dependemos dos recursos deste planeta para tudo, e muitos hoje percebem isso com clareza. Não há um planeta Terra 2.0, então temos que aprender a cuidar deste aqui”.

Toda a produção do sítio é destinada ao consumo próprio, amigos, parentes e a um pequeno grupo de pessoas que dão suporte ao sítio, em troca de produtos agroecológicos. E qualquer pessoa pode participar do projeto, na condição de voluntário, basta ter interesse. São cursos quase que mensais sobre variados temas, como: implantação de agrofloresta manejo, solos ou criação de abelhas. O grupo realiza também mutirões gratuitos para quem quer colocar a mão na terra e aprender na prática.

Interessados em vivenciar uma experiência mais intensa, a sugestão é se inscrever para o programa de voluntariado na plataforma Worldpackers. A imersão tem duração média de três semanas.

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