Em dezembro de 2024 o projeto Kiry Almar, do clube de canoagem Kirymurê completou 18 meses de existência. Por meio dele, jovens PCDI (pessoa com deficiência intelectual) – alguns com Síndrome de Down e autismo – e seus familiares semanalmente têm aulas de canoa havaiana na praia de Buraquinho.
Desenvolver um projeto social era um antigo sonho de uma das gestoras do clube, Nicole Saback, desde que começou a remar, há mais de 10 anos. Essa vontade ficou mais latente desde que abriu a segunda base, em Buraquinho, que apresenta águas abrigadas, favoráveis a uma prática bastante controlada, sem interferência de ondas.
Inicialmente a ideia era trabalhar com um público PCD (pessoa com deficiência). Para dar início ao projeto, buscou informações no Centro de Referência, filiado ao Comitê Paralímpico Brasileiro, e foi lá que conheceu o professor Virgílio Leiro, que hoje é coordenador de atividade física do Instituto de Organização Neurológico da Bahia. Foi ele quem sugeriu que o projeto fosse voltado ao público PCDI, principalmente para jovens com condição de autismo. Na ocasião, o professor mostrou algumas iniciativas para esse público, porém em quantidade bastante reduzida de vagas e nenhum deles relacionado a práticas no rio ou mar.
Após intensa pesquisa para entender mais sobre o público PCDI e a forma mais didática de ensiná-los, foi marcada uma aula inaugural, incluindo familiares dos jovens, para que entendessem como seria o trabalho e para que os pais se sentissem mais seguros em relação aos meninos irem para a água. Desde então os meninos não pararam mais… E nem os familiares! O projeto foi estendido para eles. Desta forma, os responsáveis trazem os meninos para a aula e também praticam, mas em uma turma separada. Os participantes já têm bastante autonomia.
Chegam ao clube, identificam seus remos, retiram os coletes auxiliares de flutuação, calçam as sapatilhas náuticas e ficam prontos para irem para a água. As remadas acontecem no rio e os treinos podem ser de até 6Km. Cada jovem conta com a presença de um voluntário, sempre atletas do clube, já experientes no esporte. Além dos instrutores sempre presentes, os voluntários são frequentemente os mesmos, o que transmite segurança aos praticantes.
Para Silvia Silva, mãe do atleta Filipe, o projeto é muito mais do que o exercício, e complementa: “Não consigo nem expressar o que significa o projeto para mim e para a vida do meu filho. Tem trazido muitos benefícios. A gente espera a semana toda pelo dia do projeto. É maravilhoso”.
Paula Jesus, mãe do aluno Daniel, destaca que o filho ganhou força e se desenvolveu com as aulas. “Só tenho a agradecer por ter essa felicidade”, destaca, agradecida. Hoje são atendidos seis jovens e seis familiares e o Kiry Almar é totalmente realizado com recursos próprios, desde os equipamentos, como canoas, remos, coletes, uniformes e até mesmo os lanches, sempre após os treinos. Também são realizados eventos, como recentemente a festa de Natal. Jackie Saback, instrutora voluntária diz: “A gente se apaixona pelas crianças, pelas mães, pelas histórias, por ver a evolução dos meninos. E isso vai muito além das remadas”.
Os alunos do clube Kirymurê se reúnem e abraçam o projeto sempre que necessário, participando com doação de tempo, atenção e colaborando com os eventos. Os lanches semanalmente são levados pelas voluntárias, que preparam tudo com bastante carinho. Entre as mais assíduas estão Bia Nery, Christi Mesquita, Ericka Gordiano, Isabel Galba, Ivania Paiva, Gracia Garib, Maise Magalhães e Vanessa Schio, além das instrutoras Jackie e Nicole Saback, gestoras do clube. Outros atletas do clube se apresentam, sempre que a agenda de trabalho permite.
Ericka Gordiano, voluntária, diz que “ser voluntária é uma experiência transformadora, onde posso contribuir para o desenvolvimento e verdadeira inclusão, promovendo não somente o esporte, mas a alegria e superação. O grande presente é meu, de ter por perto crianças tão inspiradoras e mães tão guerreiras”.
E Nicole complementa: “O esporte mudou a minha vida e de toda a minha família, é justo que a gente trabalhe para, desta maneira, tentar devolver ao mundo todas as bênçãos que recebemos. Quando demos início ao projeto achei que fosse tão somente ensinar a prática da canoagem, mas a verdade é que a cada semana eu aprendo uma lição, sobretudo com as mães participantes, que tanto nos ensinam com suas força e amor. Estar envolvida nisso, ajudar a transformar as vidas das pessoas, é um privilégio. Sou muito grata”.
E continua: “Em 2025 a intenção é ampliar a oferta de vagas, já que hoje atuamos com 100% de nossa capacidade, mas para isso o clube busca empresas apoiadoras. A inserção de novos alunos precisa ser feita de forma muito planejada e consciente, pois é um caminho que não dá para voltar. Ao matricular um aluno precisamos ter a certeza que podemos atendê-lo ao longo de todo o ano, dando toda a assistência necessária”, complementa.
Para conhecer mais sobre o Projeto Kiry Almar, visite o Instagram @kiry.almar ou entre em contato com o Clube Kirymurê, telefone 71 9 9695-6281.