Qual o papel do Fazedor de Cultura e do Produtor Cultural?

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jornalista de lauro de freitas marcio wesley

Os fazedores de cultura comunitários são importantes porque promovem ações que ajuda a população a se identificar com suas raízes

Nos debates atuais sobre políticas culturais, surgem frequentemente duas expressões que, apesar de relacionadas, representam atuações distintas: fazedores de cultura e produtores culturais. Compreender essas diferenças é essencial para reconhecermos o valor de cada um no amplo leque cultural.

Vamos aqui tentar destrinchar as especificidades desses papéis e suas respectivas contribuições para que possamos entender quem é fazedor de cultura e produtor cultural.

Fazedores de cultura

Os fazedores de cultura são indivíduos que, de maneira direta e orgânica, produzem manifestações artísticas. São os artistas, músicos, escritores, atores, poetas e demais agentes que criam e expressam arte a partir de sua experiência pessoal e vivências culturais.

Como destacou o professor e pesquisador Antonio Albino Canelas Rubim: “Os fazedores de cultura, embora possam atuar em níveis menores de organização, são os principais responsáveis pela geração da cultura que será distribuída”, a citação aparece na obra Políticas Culturais no Brasil, de sua autoria.

Estes agentes estão frequentemente conectados às suas realidades locais e são fundamentais para a preservação e renovação de tradições e saberes populares. Mestres de capoeira, artesãos e músicos que criam suas composições com base em ritmos populares são exemplos claros desse grupo.

Apesar de sua importância, esses fazedores muitas vezes enfrentam barreiras para acessar mercados e infraestruturas, mantendo suas produções culturais em esferas locais e informais.

Produtores culturais

Os produtores culturais, por sua vez, são os responsáveis por viabilizar o trabalho dos fazedores de cultura. São responsáveis por organizar, gerenciar e estruturar a produção cultural, garantindo que as criações artísticas cheguem ao público. Segundo Albino, “os produtores culturais são mediadores e gestores de uma cadeia que envolve a criação cultural, o mercado e o público”.

Esses profissionais trabalham com captação de recursos, desenvolvimento de projetos e negociações com patrocinadores, promovendo o trabalho dos artistas para um público mais amplo. Um exemplo claro é o papel do produtor em conectar o trabalho de músicos ou artistas visuais com festivais, teatros ou galerias, além de lidar com questões burocráticas, como contratos e direitos autorais. Enquanto o fazedor de cultura está focado no processo criativo, o produtor cultural se preocupa com a viabilização logística e econômica da arte.

O renomado antropólogo Néstor García Canclini, reconhecido por seus estudos sobre modernidade e a relação entre cultura, poder e economia, destaca que, “os produtores culturais operam na interseção entre o mercado e a criação, facilitando a transformação da produção artística em algo que pode ser consumido”.

Desse modo, Canclini aborda a importância das indústrias culturais e o papel dos produtores culturais como mediadores entre a tradição e a modernidade, entre o local e o global, entre a arte e o consumo. Tema largamente discutido em seu livro “Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade”.

A confusão entre fazedores de cultura e produtores culturais é comum, especialmente quando os dois papéis se sobrepõem. Muitos fazedores de cultura em nosso país, por falta de acesso a um produtor, acabam também exercendo a função de organização e gestão de suas próprias criações. Essa sobreposição de funções, pode sobrecarregar e afetar na qualidade de suas criações.

Entretanto, compreender e respeitar as diferenças entre os dois papéis é fundamental para que os fazedores de cultura tenham o suporte necessário para focar na criação de suas artes, enquanto os produtores culturais gerenciam a viabilidade e a promoção do trabalho artístico.

Conclusão

Tanto os fazedores de cultura quanto os produtores culturais são essenciais para a manutenção cultural.

Teixeira Coelho, em sua obra sobre política cultural, resume essa interdependência ao afirmar que, “o fazedor de cultura trabalha movido por um impulso criativo e identitário, mas, para que sua obra alcance o público, o produtor cultural precisa organizar, mediar e negociar com as diferentes esferas do mercado e das políticas públicas”.

Como vimos, a literatura acadêmica brasileira, bem como pesquisadores de outras nacionalidades que estudam o contexto cultural do Brasil, trazem à tona a importância de reconhecer as especificidades tanto dos fazedores de cultura quanto dos produtores culturais.

Essas funções, embora distintas, são complementares e essenciais para a perpetuação e disseminação das diversas manifestações culturais que compõem o rico e diverso panorama artístico brasileiro. E compreendermos essas diferenças é um passo essencial para o desenvolvimento de políticas culturais mais inclusivas e eficientes.

Márcio Wesley | Jornalista, produtor cultural e professor de Artes.

www.blogdomarciowesley.com.br

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