A palavra mudança pode ser vista como algo transformador. Na política é alternância de poder. A democracia tão apregoada nos últimos tempos é sinônimo de convivência entre pensamentos diferentes, portanto a consolidação do processo democrático passa por alternativas de poder das mais diversas na política.
Lauro de Freitas, próspero município da Região Metropolitana de Salvador, se ressente de alternativas de gestão, considerando que a atual tem 16 anos de comando de um só partido e de uma só pessoa, houve somente um breve hiato de 4 anos de governo, comandado pelo médico Márcio Paiva.
Mudar é bom, é estimulante, é renovador experimentar formas diferentes de gerir a coisa pública.
A antiga Santo Amaro de Ipitanga, hoje uma metrópole, pouco guarda da sua história, afinal nem temos um museu, Lauro de Freitas caminha na contramão da modernidade, pois conta a sua história através da oralidade, o que é muito perigoso. Grupos políticos mais à esquerda exercitam o poder local há 16 anos e aí precisamos, sem mau-caratismo, nos perguntar o que de fato foi feito pela cidade no saneamento, na educação pública, na saúde, na infraestrutura, na cultura. Enfim, temos um projeto desenvolvimentista para a cidade ou mera forma de exercício de poder baseado no empreguismo e na atrofia do Poder Legislativo? Quem tem medo da verdadeira mudança?
Lauro de Freitas tem mais de 205 mil habitantes, portanto dar ênfase às ocupações desenfreadas dos cargos públicos não significa gestão. Quantos cargos temos hoje? 8 mil? 10 mil? 14 mil? Quantos partidos e entidades de classe são beneficiados com esses cargos?
O pensamento de Antonio Gramsci, teórico e ativista político marxista, nascido na Sardenha, Itália, em janeiro de 1891, afirma que sob o capitalismo moderno, a burguesia pode manter seu controle econômico permitindo que a esfera política satisfaça certas demandas dos sindicatos e dos partidos políticos de massas da sociedade civil. Ter o controle dos partidos, representações da sociedade civil e do Legislativo tornou-se então uma forma de fazer política permanentemente e assegurar uma base de apoio fundamental para a perpetuação no poder, lembrando que o grande James Bond dizia que “só os diamantes são eternos”, aí questionamos para valer: o que o conjunto majoritário da sociedade, que não ocupa cargos e nem são sindicalistas, lideranças comunitárias ou membros de partidos, ganham com essa prática? Nada.
Na verdade os munícipes, ao longo do tempo, se transformaram em meros pagadores de impostos, que vão manter e impulsionar essa grande farra ‘democrática’. O efeito prático dessa grave distorção na política local e nacional é o colapso da gestão, porque a folha de pagamento será sempre estratosférica e aí, volta e meia, faltam recursos para a compra de papel higiênico, para a manutenção das sinaleiras, para o tapa-buraco, para merenda escolar de qualidade, para políticas públicas, para programas visando a diminuição da criminalidade e recuperação do meio ambiente, para obras estruturantes e tantas outras.
Quem ganha com tudo isso? Eles, menos nós. Será que vamos continuar com medo da mudança?
Marcelo Santana é professor, advogado, doutor honoris causa em Ciência Política, ex-vereador e ex-presidente da Câmara Municipal de Lauro de Freitas.