Tamar quer formar grupos de moradores para tomarem conta dos ninhos de tartaruga

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A temporada de desova das tartarugas marinhas no litoral norte baiano só começa em outubro, mas o primeiro ninho já foi localizado em Vilas do Atlântico no mês passado. Devidamente marcado, ele permanecerá no local até os ovos eclodirem.
FOTO: O primeiro ninho da temporada 2019-2020 em Vilas do Atlântico chegou com antecedência
 
Tal como no ano passado, os ninhos serão preservados no próprio local escolhido pelas tartarugas, em vez de serem recolhidos e transportados para Busca Vida ou para as bases do Tamar em Arembepe ou Praia do Forte.
 
Nathalia Berchieri, bióloga do Tamar, conta que o plano para o futuro próximo é formar grupos de moradores que tomem conta dos ninhos nas praias, promovendo maior integração entre a população e o projeto conservacionista. Os moradores da orla já, normalmente, tomam conta dos ninhos por iniciativa própria.
 
Uma equipe do Tamar continua a percorrer as praias em busca de rastros de tartaruga que indiquem um ninho novo, mas apenas para cercar o local. Os próprios rastros são mantidos para habituar as pessoas à presença das tartarugas. A temporada de desova que vai até março, com duas a nove desovas de cada fêmea, a depender da espécie, quase sempre à noite.
 
Os filhotes levarão de 45 a 60 dias para nascer, a partir de novembro, nas praias em que as tartarugas tiverem desovado. De cada mil filhotes, somente um ou dois conseguirão atingir a maturidade.
 
ILUMINAÇÃO
Um dos fatores que influenciam as desovas e a sobrevivência dos recémnascidos é a presença de luz no calçadão de Vilas do Atlântico – o que afasta as tartarugas em busca de lugar seguro para desovar. A luz artificial também desorienta os filhotes, que em vez de correr para o mar ao sair do ninho, seguem em direção à fonte de luz mais forte: um poste. Ali acabam por morrer ao nascer do dia, sob o sol de verão.
 
O primeiro sistema de iluminação do calçadão, projetado com o auxílio do Projeto Tamar, cerca de 20 anos atrás, dirigia o foco de luz apenas ao piso. Os atuais postes, instalados há quase 15 anos, apesar do anteparo não cumprem a mesma função por estarem a menos de 50 metros da faixa de maré de sizígia.
 
Além disso, várias das luminárias foram substituídas por outras que nem o anteparo têm, apesar da prefeitura, responsável pela iluminação pública, ser obrigada a seguir os critérios técnicos estabelecidos. Além disso, há residências da orla que iluminam diretamente a praia.
 
A legislação ambiental da Bahia proíbe a iluminação das praias para proteção das tartarugas marinhas por meio da Lei 7.034, de 13 de fevereiro de 1997 e da Portaria nº 11, de 30 de janeiro de 1995. E a Resolução nº 10, de 24 de outubro de 1996, do Conselho Nacional do Meio Ambiente estabelece que o licenciamento de empreendimentos em praias com ocorrência de tartarugas marinhas deve contar com a avaliação do Tamar.
 
De acordo com a lei, não pode haver iluminação numa faixa de 50 metros contados a partir da linha estabelecida pela maré de sizígia – a maior preamar verificada no ano. A lei diz ainda que compete à Coelba, em conjunto com o Tamar, a identificação das áreas que necessitam de adequação e o estabelecimento de critérios técnicos para essa adequação quando a iluminação já existe, emitindo pareceres prévios.
 
A fiscalização dessas áreas e o acompanhamento dos projetos, inclusive de adequação da iluminação, também são responsabilidade da Coelba e do Tamar. Já a prefeitura municipal, responsável pela iluminação pública, é obrigada a seguir os critérios estabelecidos.
 
LITORAL NORTE
O litoral norte baiano é reconhecido internacionalmente, pelo Comitê Executivo da Convenção Interamericana para a Proteção e Conservação das Tartarugas Marinhas, como a principal área de nidificação da América Latina para as tartarugas marinhas cabeçudas e do Atlântico Sul para as tartarugas de pente. A preservação das praias em condições adequadas é essencial porque as tartarugas marinhas desovam nas praias em que nasceram, completando um ciclo de vida que remonta à época dos dinossauros.
 
O Projeto Tamar começou a proteger as tartarugas marinhas no Brasil em 1980. Com o patrocínio da Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental, hoje o Projeto é uma soma de esforços entre a Fundação Pró-Tamar e o Centro Tamar/ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
 
O Tamar trabalha na pesquisa, proteção e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea).
 
As equipes protegem cerca de 1.100 quilômetros de praias e estão presentes em 25 localidades, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas oceânicas dos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.

 

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