Talvez este seja o momento que mais se precise de um abraço caloroso. O isolamento social e os riscos de contaminação do coronavírus afastaram fisicamente muitas pessoas.
É natural que a carência aumente e que o desejo seja alimentado dia a dia pela proibição. Todo ser humano gosta de ser abraçado, recebendo afeto, ampliando o sentimento de ser querido.
Mas, precisamos de outro tipo de abraço, muito pertinente para o momento, adequado para quem abraça e renovador para quem o recebe.
Trata-se do ‘abraço’ da empatia.
Mais do que algo momentâneo, a empatia é uma condição permanente da pessoa que sabe se colocar no lugar do outro, compreendendoo e sendo capaz de sentir o que ele sente.
A empatia permite que uma pessoa lide com a essência do outro e não apenas com o toque em seu corpo ou na oferta momentânea de uns poucos afagos. A empatia respeita as diferenças, extrapolando o politicamente correto, pois não se utiliza para atender a requisitos culturalmente modernos, mas pela percepção intrínseca de igualdade da condição humana.
Na empatia, lida-se com o outro como pessoa, independentemente de qualquer juízo de valor sobre seu status social ou de suas intenções.
Sim, um abraço é valioso e bom, mas a empatia é rica, sobretudo na convivência, para a ampliação da consciência, principalmente quando se torna mais intensa.
Ser empático não exige qualquer demonstração externa, pois se trata de um atributo interior de alta relevância para a percepção das diferenças em que se situam as pessoas.
A empatia não é simpatia, mas dela se utiliza para uma melhor convivência e para o desarme de qualquer tendência beligerante. Quando alguém não lhe entender as razões de sua fala ou de seu comportamento, compreenda sua falta de empatia, oferecendo-lhe a sua.
Tolerância, paciência para com o outro e transigência são condições psicológicas socialmente incentivadas, mas não são habilidades integradas à personalidade como a empatia, pois se tratam de simples regras de conduta, que merecem aplausos.
Adquirir a habilidade de ser uma pessoa que integrou a empatia à personalidade requer a compreensão das próprias inferioridades, a humildade de reconhecê-las e o desprendimento de todo e qualquer tipo de vaidade; é não se sentir superior, muito menos querer do outro o que não tem para lhe oferecer; é entender que o outro é alguém que talvez não tenha a mesma sabedoria nem conquistou o mesmo domínio sobre si mesmo como você.
Sejamos mais empáticos, sem sermos ingênuos, compreendendo que cada ser humano caminha com o próprio fardo de sua ignorância, sem entender que a Vida está sempre o convidando, em tudo, a se aproximar do outro como seu semelhante.
Ninguém é uma pedra que não possa querer um abraço, porém todos são seres humanos que podem entender que o desejo de serem compreendidos empaticamente é a raiz das boas relações e das intenções afetivas.
Adenáuer Novaes é psicólogo, escritor, filósofo e engenheiro. adenauernovaes@gmail.com