Agenda do Univerão movimentou a cidade em torno de educação, cultura e política

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João Carlos Silva, reitor da UFBA, na abertura da Univerão ao lado de Moema Gramacho: combate ao fim das cotas
 
Palestras e espetáculos musicais marcaram o projeto “Universidade de Verão” (Univerão) em Lauro de Freitas em janeiro. De acordo com a prefeitura, cerca de 2.800 pessoas participaram do projeto, em mais de mil horas de aulas em 130 cursos, palestras, oficinas e conferências. O palco principal dos eventos foi o auditório do Centro Panamericano de Judô, em Ipitanga.
 
O primeiro palestrante foi João Carlos Salles Pires da Silva, reitor da Universidade Federal da Bahia, que apontou “os desafios para a manutenção da democracia dentro dos campi públicos”. Salles criticou a tentativa de implantação de projetos para a academia que buscam minimizar ou destruir bandeiras como a universidade gratuita e a política de cotas. “Estão desenhando uma imagem de racionalidade econômica que contraria princípios fundamentais”, disse.
 
Segundo a prefeitura, mais de 30 conferencistas da educação brasileira passaram pelas mesas redondas e palestras da ação, com a participação de mais de 150 professores do ensino superior. Um deles foi o antropólogo José Jorge de Carvalho, que defendeu a aplicação do critério racial de cotas para os cursos de pós-graduação.
 
O deputado paulista Paulo Teixeira com Moema Gramacho: palestra política
 
O catedrático, responsável pela implantação do sistema de cotas na Universidade de Brasília em 2004, reconheceu que a lei “significou um avanço parcial inegável, na medida em que fez aumentar o número de estudantes negros”, mas fez um alerta: “ao mesmo tempo que amplia o número de vagas, a lei, pelo seu formato restritivo, impede a construção de uma plena igualdade étnica no ensino superior brasileiro”.
 
José Jorge também destacou a importância de incluir outros saberes, tradicionalmente excluídos, nas universidades brasileiras para ocasionar o que chama de descolonização acadêmica. “Na verdade, são raízes de outros países que tentamos copiar num longo processo”, disse.
 
O ex-reitor da Universidade Federal da Bahia, Naomar Monteiro de Almeida Filho, questionou o conceito brasileiro de universidade, uma instituição pública que não é voltada para o povo. Analisando o cenário educacional do país, o professor ressaltou a importância de conhecer as diferenças entre educação e ensino.
 
Faixa partidária mostra apoio ao ex-presidente Lula durante palestra da Univerão no Centro Panamericano de Judô
 
Partilhando a mesa com o ex-reitor, o secretário municipal de Educação, professor Paulo Gabriel Nacif explicou o significado de “Cidade Educadora” com o exemplo da Universidade de Verão, ratificando a afirmação sobre a necessidade da participação popular na construção do processo e na sua execução.
 
“Precisamos ter um pacto social, o Estado sozinho não dá conta, as pessoas têm que fazer parte desse pacto”, disse – “A Univerão vem como um grande desafio de integrar tudo que já foi conquistado nesse sentido e com essa experiência poderemos aprender que não precisamos separar a mente que aprende da que se diverte”, disse.
 
O discurso político também esteve presente. Nacif avaliou que a concretização da Univerão é resultado das lutas de gerações que mudaram o Brasil. Responsável pela iniciativa, Nacif lembrou que no início dos anos 2000 havia apenas 4,5% de estudantes no ensino superior em todo o país e que hoje eles são cerca de 10%. Havia 30% dos estudantes no nível médio hoje são 60%. Para ele, “os governos de centro e de esquerda mudaram o país e essa mudança deu à população uma nova expectativa em termos de lazer e cultura” – “a Univerão tem papel crucial nesse aspecto”, concluiu.
 
Abertura do Festur no Cine Teatro de Lauro de Freitas: destacando a diversidade
 
Outro dos palestrantes convidados foi o deputado federal Paulo Teixeira, do PT de São Paulo, que falou sobre “Democracia em Momento de Crise”, condenando o impeachment da ex-presidente Dilma. Ao lado dos também deputados Afonso Florence (PT) e Joseildo Ramos (PT), da vereadora de Salvador Marta Rodrigues (PT) e da ex-ministra do governo Dilma Mirian Belchior, a prefeita Moema Gramacho (PT) aplaudiu Paulo Teixeira e disse que os acertos dos projetos de esquerda no Brasil, liderados por Dilma e Lula, foram as maiores motivações para o impeachment, tratado na palestra como golpe. “Eles não aceitam dividir”, disse Moema – “a elite não admite que os filhos dos pobres se tornem doutores”. Criticando o último reajuste do salário mínimo, acrescentou que “a democracia está ameaçada diante dessa crise econômica, judicial, parlamentar e midiática”.
 
FESTA
Uma Festa Turística Étnica Cultural (Festur) promoveu espetáculos musicais e atrações de lazer ao longo da semana de eventos, dois deles em Vilas do Atlântico. Para o sábado, dia 20 de janeiro, um palco foi montado junto às barracas informais para movimentar o dia com atrações como fit dance, espetáculo para crianças e a soltura de filhotes de tartaruga em meio a uma pequena multidão na praia.
 
O cantor Geraldo Azevedo em espetáculo gratuito no Parque Ecológico: mensagem política anti-Temer
 
Com a presença da prefeita Moema Gramacho e do deputado Paulo Teixeira, no mesmo dia milhares de pessoas lotaram o Parque Ecológico para um espetáculo gratuito de Geraldo Azevedo – que não deixou de mandar seu recado político em “Canção da Despedida”, composta como protesto no período da ditadura militar.
 
Geraldo Azevedo comparou Michel Temer a Arthur da Costa e Silva, o general presidente naquela época, ao afirmar que “depois de tantos anos não podia imaginar que veria de novo um rei mal coroado”. A letra da música fala de “um rei mal coroado não queria o amor em seu reinado pois sabia não ia ser amado”.
 
No dia seguinte houve mais um espetáculo, desta vez na praça da Matriz, no Centro, com a apresentação do sambista Diogo Nogueira.
 
No Centro, a abertura do Festur contou com a apresentação da Orquestra de Berimbaus e Pandeiros de Lauro de Freitas num evento destinado a comemorar a diversidade cultural da cidade. Para Joílson Lopes, diretor de turismo da Secretaria Municipal de Cultura, “Lauro de Freitas hoje tem o metro quadrado mais cultural do Brasil”. A ideia é fomentar esse potencial em novas edições do evento para movimentar o setor na cidade.
 
Palco de evento turístico da Univerão em Vilas do Atlântico: barracas do comércio informal continuam a ser toleradas
 
Um espetáculo teatral traduziu momentos de destaque da história de Santo Amaro de Ipitanga, dos Tupinambás aos nossos dias. Marinho e Mirinha são os personagens que mergulham no passado da cidade e fazem uma viajem pela chegada dos portugueses, dos negros, pelo primeiro campo de aviação e pela Base Aérea, a independência da Bahia, e a emancipação do município, entre outros momentos. Um final apoteótico retrata a chegada do metrô.
 
Também foram oferecidas oficinas de capoeira e dança, teatro, apresentação de grupos culturais e feira de artesanato. Três roteiros turísticos mostraram aos participantes a cultura, praias e patrimônio arquitetônico.

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