A Bahia conquistou sua primeira medalha de ouro em competições internacionais de tiro com arco. O crédito deste feito fica com o atleta Antônio Gregório Benfica Marinho, de 63 anos, que começou a praticar o esporte como forma de se recuperar de uma depressão, e hoje já tem planos de incluir a atividade no currículo do curso de Educação Física da UNEB, onde leciona, e como atividade de extensão para adultos e terceira idade, em Lauro de Freitas.
Gregório conta que até o começo de 2020, administrava um grande volume de problemas, situação que se agravou com a chegada da pandemia abrindo espaço para um processo depressivo. Buscando se reconstruir, foi buscar suporte na prática de yoga e meditação. Nesse processo, revendo alguns livros de Zen Budismo, se deparou com um livro clássico que tinha lido na juventude: “A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen”, de Eugen Herrigel, foi publicado em 1948 e que permanece como uma introdução ao Zen Budismo até os dias atuais.
“Nesse livro, o professor alemão de filosofia, Eugen Herrigel, fala sobre suas experiências no estudo do Kyudô, uma forma de arco e flecha japonesa. Seu mestre lhe ensinou que o Kyudô era uma espécie de meditação ativa. Como eu percebia que, no caso de depressão, a meditação ativa era mais recomendada e como eu já tinha praticado o Tai Chi Chuan, que é também um tipo de meditação ativa, me entusiasmei com as possibilidades da novidade para mim, que era a prática do arco e flecha meditativo, como forma terapêutica para lidar com a depressão”.
Empolgado, procurou grupos que praticassem o esporte na Bahia, sem sucesso. E mesmo sem qualquer orientação, comprou um arco, “totalmente inadequado”, relembra, e começou a praticar o tiro com arco como meditação. Os efeitos positivos logo foram sentidos e Gregório desenvolveu uma metodologia própria, que integra o meditativo com o lúdico e o esportivo.
Da prática do esporte por ‘terapia’ até chegar às competições, foi um caminho orgânico. O primeiro passo foi encontrar outros praticantes aqui na Bahia e então conheceu o Polo da Field, em Salvador, grupo que tem por objetivo organizar competições de diferentes estilos de arcos e congregar a comunidade de arqueiros.
Em 2021, com ajuda do Polo da Field, Gregório fundou a Federação Baiana de Arco e Flecha, vinculada à Confederação Brasileira de Tiro com Arco. A consequência natural foi ampliar a participação de arqueiros baianos em competições nacionais e internacionais e as consequentes medalhas.
Gregório agora está concentrado em avançar um passo importante para o esporte, com a implantação do Tiro com Arco no currículo do curso de Educação Física da UNEB, para formar profissionais no esporte, além de atividades de extensão para adultos e terceira idade, na unidade de Lauro de Freitas.
“Por ter tido uma experiência de ‘renascimento’ com a prática do arco e flecha e ser um acadêmico da UNEB, é natural que meu olhar não se limite apenas a competições e obtenções de medalhas e recordes. Ao estudar e, principalmente, vivenciar o tema, ficou claro para mim que a prática do arco e flecha, tanto no aspecto histórico como ontológico, envolve múltiplas dimensões e que, abordar apenas a dimensão esportiva da prática é algo muito limitado e pobre”.
Para os alunos do curso de Educação Física, a proposta é aplicar a metodologia, que está sendo chamada por Gregório de ALEM: Arquearia Lúdica, Esportiva e Meditativa. Após o período de formação, simultaneamente em vários municípios baianos, será possível formar equipes de competidores para difundir o esporte por todo o estado e assim projetar o nome da Bahia nacionalmente.
Quanto ao grupo da terceira idade, Gregório é direto: “Alguém talvez me pergunte se é factível, conveniente ou mesmo proveitoso, colocar nossos idosos com essas ‘armas nas mãos’. O que posso responder é que comecei do zero, com 61 anos, e pretendo continuar atirando por mais algumas décadas, de maneira lúdica, esportiva e meditativa. O arco e flecha me deu muito, em saúde física e mental e muito a prática pode dar aos nossos colegas idosos”, conclui.
Ouro inédito
Aconteceu de 21 e 24 de julho, em Campinas/SP, no ginásio da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, o South American Indoor Archery Championship (SAIAC) 2022, organizado pela Field Brasil.
Precedendo o Mundial da Field, que ocorre a cada ano ímpar, (o próximo será em 2023, na Inglaterra), acontecem as competições indoor em cada continente. E neste ano, o Brasil foi escolhido como sede do Campeonato Sul Americano de Tiro com Arco Indoor, Saiac 2022.
Gregório foi o único representante da Bahia a disputar o torneio, o que não lhe impediu de conquistar a medalha de ouro na categoria Master, estilo Arco Histórico.
Apesar do pouco tempo no esporte, o currículo de Gregório chama a atenção, com títulos e recordes baianos em diferentes estilos de arcos e o recorde brasileiro no Barebow Composto.
Em agosto foi divulgado o resultado do terceiro campeonato anual do CIIC e, por ter conquistado o primeiro lugar nas três competições deste ano, Gregório recebeu o título de campeão brasileiro Master no Barebow.