Aumenta presença de animais silvestres em áreas urbanas

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Expansão imobiliária, de forma aleatória, força animais silvestres a fugirem de seu habitat natural. Muitos não sobrevivem.

Quem mora em Lauro de Freitas há alguns anos já deve ter visto de longe ou até encontrado mais de perto com algum animal silvestre. São aves, mamíferos, répteis, alguns lutando para permanecer em seus habitats naturais, outros buscando nova moradia. O certo é que está faltando equilíbrio na relação entre vida silvestre e vida urbana, e uma das partes está saindo machucada.

Nos últimos 10 anos, a clínica veterinária Dr. Zoo, em Vilas do Atlântico, prestou atendimento a mais de 3.500 mil animais silvestres, em sua grande maioria aves. Segundo a veterinária Renata Del Bianco, proprietária da clínica, as principais ocorrências são atropelamentos – principalmente de raposas e répteis –, choque em fios de alta tensão, que acomete principalmente os saguis, e as batidas em vidros, neste caso, as aves.

“É comum tratarmos também problemas de manejos nu- tricionais, sobretudo em papagaios e calopsitas. Isso acontece pois muitos proprietários adquirem essas aves mas não pesquisam para saber qual alimento podem oferecer e muitas vezes acabam dando alimentos caseiros”, diz.

Quando resgatados, seja pela polícia ambiental, Centro de Controle de Zoonoses – CCZ, ou por pessoas da comunidade, os animais passam por acompanhamento com o veterinário responsável e em seguida, dependendo do estado de cada animal, se necessário, fica internado na clínica para tratamento de possíveis fraturas e outros traumas. Após este período, o animal é devolvido ao meio ambiente, entregue à polícia ambiental ou ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA.

Segundo Renata, o número de animais silvestres resgatados vem crescendo nos últimos anos, quer seja por mais interesse das pessoas sobre o assunto, que buscam se informar sobre como ajudar, quer seja pela expansão imobiliária. “Percebemos um crescimento no número de pessoas interessadas no assunto, pesquisando sobre proteção animal e formas de ajudar. Mas por outro lado, temos relatos de casos de máquinas entrando em grandes áreas verdes para desmatar com objetivo de expansão imobiliária, de forma aleatória, sem o acompanhamento de um biólogo, forçando os animais a fugirem desesperados, sem rumo, ocupando pistas de tráfego, tentando de se salvar. É importante relatar que sobre o crescimento urbano, percebemos nitidamente o desencontro nas ações das secretarias de meio ambiente e urbanização, faltando um estudo sobre a vida que existe nas áreas verdes; antes de entrar na área, pesquisar quais os animais que vivem no ambiente e para onde podem ser realocados. Não se tem estudos sobre o assunto e isso fomenta o crescimento de acidentes envolvendo animais”, alerta a veterinária.

Na região de Lauro de Freitas, além de lindas aves, como papagaios, jandaias, canários, sanhaços e sabiás, existe também uma variedade de répteis, a exemplo das iguanas e jibóias, além de pequenos mamíferos, como sariguês, saguis e cuícas.

Na edição de maio, a revista Vilas Magazine publicou uma foto encaminhada pelo leitor Evandro Cordeiro de Lima, mostrando visitas noturnas de uma raposa nas imediações do Shopping Villas Boulevard e na Av. Pajussara. Na edição de março, outra foto, enviada pelo leitor Marcelo Santhiago, mostrava uma capivara passeando pelas margens do rio Sapato, nas proximidades de Buraquinho.

Segundo Renata, a presença de raposas é bem comum em Lauro de Freitas. “Algumas vezes foram vistas em um terreno de mata fechada e bem arborizado, na av. Luiz Tarquínio, ao lado da loja Bello Ferragens. E também algumas atravessando a Estrada do Coco, pela madrugada, principalmente próximo a região de Busca Vida. Nesse caso, o recomendado é que as pessoas acionem o CCZ que pode fazer o resgate do animal de forma segura, caso ele esteja doente ou machucado. Se estiver bem, ele mesmo seguirá seu caminho”.

Dentro do condomínio Busca Vida existe uma reserva ambiental, onde a clínica Dr. Zoo já realizou a soltura de alguns animais silvestres. “No caso específico de Vilas do Atlântico, até existem reservas que poderiam ser usadas para soltura de algumas espécies, mas são áreas que estão abandonadas, sem qualquer estudo sobre elas, sendo possível encontrar esgoto e muito lixo, precisando de atenção do poder público e da população”, destaca a profissional.

Renata Del Bianco espera que o olhar atento da comunidade contribua com a preservação da vida silvestre, sobretudo a partir da consciência de seu espaço, não desmatando, não poluindo, não levando animais silvestres para casa, por acharem bonitinhos. Uma solução interessante seria a implantação de áreas de preservação, onde os animais poderiam ficar livres, propiciando a observação da vida silvestre.

“É preciso o entendimento coletivo que, ao promover a preservação da vida silvestre, do meio ambiente como um todo, estamos contribuindo para menor incidência de doenças zoonóticas, para melhor qualidade de vida para animais e humanos, para a redução do aquecimento global, enfim, para um equilíbrio que é vital para a manutenção da biosfera do planeta. Quando você protege um animal silvestre e o seu habitat, não são apenas os animais que ganham, os seres humanos também”, conclui Renata.

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