Aumento limitado a 1,5 °C ainda exige adaptação da orla

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COP21

Representantes de 195 países reunidosna Conferência do Clima(COP21), em Paris, em dezembro,aprovaram um acordo final sobre a reduçãode emissões de gases de efeito estufa – quecausam o aquecimento global. O acordoprevê a criação de um fundo anual de US$100 bilhões, financiado pelos países ricos, apartir de 2020, para limitar o aquecimentoglobal a 1,5ºC.

A contenção do aquecimento pretendeevitar fenômenos extremos como ondas decalor, secas, enchentes e o aumento do níveldo mar, conforme mostrado pela Vilas Magazinena edição de dezembro. Mesmo coma elevação da temperatura contida em 1,5ºCaté 2100, a orla de Lauro de Freitas vai mudar.

De acordo com projeções da ClimateCentral, uma organização de jornalismo epesquisa sem fins lucrativos, nesse nível oCentro Panamericano de Judô, por exemplo,não se salva. O mapa mostra as áreasque serão tomadas pelo mar com a elevaçãoda temperatura limitada a 2ºC e a 1,5ºC.

Apesar disso, o acordo foi festejadocomo um sucesso. Já as organizações nãogovernamentais (ONG) dedicadas à questãopercorreram as ruas de Paris para manifestarinsatisfação com as conclusões da COP21. AsONGs consideram insuficientes as medidasde combate ao aquecimento global.

O Acordo de Paris, como foi chamadoo documento final da 21ª Conferência doClima da Organização das Nações Unidas(ONU), entrará em vigor em 2020. A cadacinco anos todos os países deverão prestarcontas sobre as ações desenvolvidas paraevitar que a temperatura global não aumentemais de 2 graus Celsius – mantida a metapreferencial de 1,5ºC.

Os países signatários, entre eles o Brasil,definiram que as reduções de emissões de gases devem atingir o limite o mais rápidopossível, mas não definiram quando o resultadodeve ser alcançado. Participantes daconferência reconheceram que as naçõesem desenvolvimento deverão levar maistempo para atingir as metas definidas.

Medidas imediatas

Mesmo no Brasil, cidades que serão duramenteatingidas, como Lauro de Freitas,já discutem medidas de adaptação paraminimizar os efeitos da elevação do nível do mar. Em Santos (SP), que abriga o mais importanteporto marítimo do país, Marinha,Exército, pesquisadores e representantesda sociedade civil já discutem propostas.

Algumas das medidas de adaptaçãoque estão sendo adotadas no mundo paraenfrentar as inundações e a erosão costeiracausadas pelo aumento do nível do marincluem barreiras naturais, como as faixasde manguezais implantadas em Palm Beach,na Flórida, Estados Unidos ou o “engordamento”de praia, como em Cuba e Miami,diques flutuantes, adotados em Veneza, naItália e readequações nos projetos de casase prédios, para torná-los mais resistentesao avanço do mar, como em Hamburgo,na Alemanha.A inundação de parte das áreas costeirasde Santos, causada pela combinaçãoda elevação do nível do mar com ressacas,marés meteorológicas e astronômicas eeventos climáticos extremos pode causarprejuízos acumulados de quase R$ 2 bilhõesaté 2100 se não forem implantadas medidasde adaptação.

A estimativa é de um estudo internacional,realizado por pesquisadores do Centrode Monitoramento de Desastres Naturais(Cemaden), dos Institutos Nacional dePesquisas Espaciais (Inpe) e Geológico (IG)e das Universidades de São Paulo (USP) eEstadual de Campinas (Unicamp), em parceriacom colegas da University of South Florida,dos Estados Unidos, do King’s CollegeLondon, da Inglaterra, além de técnicos daPrefeitura Municipal de Santos.

A cidade brasileira foi escolhida paraparticipar do projeto também por contarcom os mais completos dados do país sobreelevação de marés. Os resultados do estudofazem parte do projeto “Uma estruturaintegrada para analisar tomada de decisãolocal e capacidade adaptativa para mudançaambiental de grande escala: estudos de casosde comunidades no Brasil, Reino Unidoe Estados Unidos”, apoiado pela Fundaçãode Amparo à Pesquisa do Estado de SãoPaulo (Fapesp).

Os pesquisadores mostraram às liderançasde Santos as projeções de elevaçãodo nível do mar e os respectivos impactoseconômicos até 2050 e 2100. De acordocom a Fapesp, as regiões sudeste e noroestede Santos já têm sido impactadaspelo aumento do nível do mar e atuaçãode eventos extremos.“Não é preciso esperar 20 ou 30 anospara sentir os efeitos da elevação do níveldo mar”, disse José Marengo, pesquisadortitular do Cemaden e coordenador do projetodo lado do Brasil. “É possível implementaragora medidas de adaptação para minimizaros potenciais danos econômicos”, afirma.Os pesquisadores estimam, por meiode dados sobre mudanças no nível do marobtidos por marégrafos na região no períodoentre 1945 e 1990 e por altimetria desatélite entre 1993 e 2013 que o nível domar na cidade pode aumentar entre 18 e30 centímetros até 2050 e entre 36 centímetrose 1 metro em 2100.


Projeção da orla de Lauro de Freitas para o futuro com a elevação da temperatura limitada a 2ºC e 1,5ºC

A combinação dessa elevação com umasobrelevação causada por uma ressacaforte – ondas elevadas e maré meteorológica– e numa fase de maré de sigízia, poderesultar em um rápido aumento do níveldo mar em Santos de 90 centímetros até2050 e 95 centímetros até 2100. A maré desigízia é a de maior amplitude, que ocorredurante as luas cheia e nova, quando o Sole a Lua estão alinhados em relação à Terrae há maior atração gravitacional.

“A planície costeira de Santos apresentadeclividades muito baixas e altimetriasinferiores a três metros”, explicou JosephHarari, professor do Instituto de Oceanografia(IO) da USP e participante do projeto.“Além disso, o nível do lençol freático dacidade é muito raso, o que a torna muitosuscetível a inundações provocadas pelomar e alagamentos devido às chuvas intensas”,sublinhou Harari à Fapesp.São condições verificadas também emLauro de Freitas, uma cidade que além dissoé cortada por vários cursos d’água.

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