A manutenção dos ninhos nas praias é resultado do esforço do Tamar, ao longo de oito temporadas reprodutivas consecutivas, na execução do Programa Nossa Praia é a Vida, no litoral norte da Bahia. Fundamental para o programa é a participação dos usuários das praias, inquilinos, proprietários das casas dos condomínios, funcionários de hotéis e pousadas, donos de comércio e barracas. A adequação da iluminação nos condomínios litorâneos é um destaque.
“Quase não precisamos mais remover os ninhos para protegê-los, apenas aqueles em risco iminente”, contou a bióloga do Tamar, Luciana Veríssimo. “As pessoas são os nossos olhos, nos avisam sempre que há alguma tartaruga na praia ou filhotes desorientados”, garante.
De acordo com a oceanógrafa Neca Marcovaldi, coordenadora de conservação e pesquisa do Tamar, atualmente 99% dos ninhos permanecem em seu local original do norte do Rio de Janeiro ao norte do Rio Grande do Norte. Ela credita isso “ao trabalho de sensibilização, educação ambiental e de inclusão social junto às comunidades locais e turistas”. Este ano foi a vez de Lauro de Freitas provar que respeita as leis e as tartarugas marinhas.
Desde 1998 uma lei federal impõe detenção de seis meses a um ano e multa a quem impede a procriação da fauna, modifica, danifica ou destrói ninho. As penalidades são aplicáveis a pessoas físicas e jurídicas. Mas até a década de 80 era um hábito comum, nas comunidades litorâneas, matar tartarugas marinhas para consumir a carne. O casco servia para fabricar armações de óculos, pentes, pulseiras, anéis. As fêmeas eram capturadas quando subiam à praia para desovar.
Quando o Tamar lançou ao mar a primeira ninhada nascida sob sua proteção, havia praticamente uma geração de crianças e jovens daquelas comunidades que nunca tinham visto um filhote de tartaruga. As práticas predatórias raramente acontecem atualmente nas áreas protegidas, mas o descaso com o meio ambiente e a ideia de que as praias são de ninguém em vez de serem de todos ainda levam perigo aos ninhos.
O esforço de educação do Tamar inclui abordagens aos banhistas e as populares solturas dos filhotes que ficam retidos nos ninhos e de tartarugas reabilitadas. A instalação de placas informativas e cartazes em bares e barracas de praia é outro recurso. No fim, é o comportamento da população em geral que mais impacto terá na preservação ou depredação dos ninhos. Nesse sentido, o passado fornece uma perspectiva positiva de futuro.
A base do Tamar em Arembepe, criada em 1983, quando a legislação de proteção ambiental praticamente não existia, foi inicialmente a “base de Interlagos” porque as ações de proteção às tartarugas marinhas na região começaram por iniciativa dos moradores do condomínio de Interlagos. Só em 1992 a base foi transferida para o povoado de Arembepe, também em Camaçari, onde atualmente conta com infraestrutura de serviços e um centro de visitantes.
AREMBEPE
Hoje a base de Arembepe monitora a região que concentra o maior número de desovas do litoral continental do país, principalmente das espécies cabeçuda e de pente. A base da Praia do Forte cobre mais 30 quilômetros entre a foz do Jacuípe e a foz do Imbassaí, incluindo as praias de Barra de Jacuípe (3 km), Guarajuba (8 km), Itacimirim (5 km) e Praia do Forte (14 km). Nesses trechos são registradas mais de duas mil desovas a cada temporada – apesar da grande pressão da presença humana, pela alta concentração de condomínios.
O litoral norte baiano é reconhecido internacionalmente, pelo Comitê Executivo da Convenção Interamericana para a Proteção e Conservação das Tartarugas Marinhas, como a principal área de nidificação da América Latina para as tartarugas marinhas cabeçudas e do Atlântico Sul para as tartarugas de pente. A preservação das praias em condições adequadas é essencial porque as tartarugas marinhas desovam nas praias em que nasceram, completando um ciclo de vida que remonta à época dos dinossauros.
O Projeto Tamar começou a proteger as tartarugas marinhas no Brasil em 1980. Com o patrocínio da Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental, hoje o Projeto é uma soma de esforços entre a Fundação Pró-Tamar e o Centro Tamar/ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
O Tamar trabalha na pesquisa, proteção e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea).
As equipes protegem cerca de 1.100 quilômetros de praias e estão presentes em 25 localidades, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas oceânicas dos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.