Quero parabenizar a Redação, pelo trabalho de informação contínua aos leitores da revista Vilas Magazine. Sou soteropolitana, moro há 34 anos no exterior, e 60% da minha família baiana mora em Stella Maris/Praia do Flamengo. Minha mãe, Edna Fernandes Rivas, é uma super fã e leitora assídua da Vilas Magazine. Através dela tive minhas primeiras leituras da revista. Minha mãe é uma idosa de 83 anos, cadeirante e mora em uma casa de repouso para idosos. Ela e os outros idosos da casa, juntamente com idosos de outras casas de repouso, são as grandes vítimas das consequências da pandemia. Minha mãe, juntamente com os outros moradores da casa Acolher, não saem da casa desde março de 2020. Os idosos praticamente não tem contatos com o ‘mundo exterior’, estão isolados. Todas as atividades interativas, sociais e até medicinais foram suspensas. Decisão corretíssima, pelo perigo de contágio na pandemia, mas examinando o aspecto humano, uma situação totalmente desoladora.
As famílias dos idosos naturalmente também sofrem com o &39;distanciamento social’ de seus entes queridos. É uma sobrecarga emocional e psíquica para todos, além do constante receio de contágio do Covid-19, pois muitas cuidadoras não estão vacinadas.
Os idosos sem atividades físicas ou sociais estão regredindo ou degenerando física, emocional e psiquicamente. Minha mãe, por exemplo, está há mais de um ano sem fisioterapia. Como cadeirante, a fisioterapia é essencial, pois as massagens e os exercícios com as pernas são vitais para evitar uma trombose. E tem o lado ‘terapêutico’ dessas atividades: quando uma fisioterapeuta ou uma assistente social, ou a pedicure ou manicure, cabeleireiros, entram numa casa de repouso para idosos, eles são acima de tudo pessoas que dão atenção aos idosos, conversam com eles e o mais importante de tudo, ouvem suas queixas, seus problemas. Examinando o aspecto emocional e psíquico, a isolação social é um dos maiores castigo para os idosos. Principalmente o contato físico, pois fora do aconchego familiar, morando em casas de repouso, não podem abraçar ou beijar filhos, netos, bisnetos, sobrinhos, que os visitam. O perigo de contrair o vírus e trazer para dentro da casa e contaminar os outros moradores é muito grande.
Além da pandemia, idosos lutam diariamente contra um inimigo muito forte: parâmetro tempo. O tempo é um incógnito x, pois as expectativas de vida de uma pessoa de mais de 80 anos em um ano é bem menor que as expectativas de vida de uma pessoa saudável de 40 anos. O receio de perder o aniversário do neto ou do filho, o receio de talvez não presenciar as próximas reuniões ou comemorações familiares é bem real e concreto.
No auge da pandemia, ano passado, na Europa, muitos idosos que ainda moravam em suas casas e eram autônomos, se rebelaram e continuaram a viver suas vidas sociais sem restrições. Eles argumentavam que, com 80 anos ou mais, não teriam a certeza se na próxima semana estariam saudáveis, independente da Covid-19, quanto mais depois de meses ou de um ano. Alegavam que não queriam perder a oportunidade de viver seu &39;último tempo’ da maneira que achavam que deveria ser. Eles são, por isso ‘velhinhos kamikaze’, pelo fato de se exporem ao vírus? No ponto de vista deles, não. A sede de viver o restinho de tempo é maior que o medo do contágio com a Covid-19.
As edições da revista Vilas Magazine são uma janela para o mundo exterior para minha mãe e outras pessoas com saúde vulnerável, independentes da idade, que estão impossibilitadas de sair de suas casas. Infelizmente, devido a pandemia, a distribuição da revista em Stella Maris e Praia do Flamengo foi reduzida. As famílias dos idosos de casas de repouso ficam atentas e procurando locais onde as revistas podem ser encontradas. Minha mãe, no seu desespero, relê antigas edições que ela coleciona. A maioria dos idosos com 80 anos ou mais sabem usar apenas o celular, não gostam de smartphones (como minha mãe explica: não tem teclas), eles não são ativos em mídia social ou internet, não tem acesso a Netflix, Amazon Prime, Sky & companhia. Eles estão à &39;mercê&39; da programação dos canais de TV. Minha mãe é professora aposentada e acredita que a televisão muitas vezes desinforma, jornais diários só tem violência e futebol, enquanto a Vilas Magazine é uma leitura agradável e informativa. Inclusive ela já foi citada na revista, por conta da gentileza do sr. Accioli, divulgando um pequeno livro que ela escreveu, a realização de um sonho. Uma mulher cadeirante, quase cega e com sequelas de um derrame cerebral, que escreve e publica um livro, não se encontra todos os dias em qualquer esquina!
Um apelo a equipe desta revista conceituada: continuem a publicar bons artigos e distribuam os exemplares em casas de repouso de idosos ou centros de encontros comunitários! Não esqueçam os idosos isolados involuntariamente, eles necessitam um pouco de divertimento e distração. Para nós Homo sapiens, como qualquer outro primata, o convívio e o contato social é essencial, primordial, vital. Não podemos esquecer daqueles que cuidaram de nós, sempre com muito carinho, amor e respeito, pois eles nunca esqueceram de nós.
O endereço da casa Acolher: Rua Conselheiro Menandro Minahin, Quadra K, Lotes 1 e 2. Praia de Ipitanga. Tel.: 71 32871710.
Em tempo: acompanho as edições da Vilas Magazine pelo site.
Marcia Rivas Kozlowski, Schermbeck, Renânia do Norte-Westfália, Alemanha.