O tempo passa e Lauro de Freitas, que em alguns parcos momentos pareceu vislumbrar um lugar no palco do desenvolvimento, mostra, com o desenrolar dos anos, que os seus contrastes socioeconômicos – herança das mazelas estruturantes da nossa sociedade burguesa, aristocrática e escravocrata – permanecem sem disfarces, apenas usando uma roupagem contextual.
As consequentes sobras das distorções sociológicas e políticas oriundas de forças imperialistas, que focalizam no acúmulo de bens materiais a despeito do bem social e ambiental, estão aí, explicitadas por toda parte da cidade, desde a qualidade da educação pública no município à invisibilidade com que são tratadas as pessoas em situação de rua, o que já não presenciávamos há alguns anos.
A cidade aponta para os rumos que vem tomando quando se constata, de maneira escandalosa, o meio ambiente urbano de Lauro de Freitas, que abarca elementos variados, numa integração de ecossistemas distintos, ricos, agregando áreas que, do ponto de vista legal, deveriam ser obrigatoriamente protegidas, mas estão absolutamente ignoradas, negligenciadas, mal tratadas, algumas das quais em detrimento de interesses privados. Quem está se preocupando com as consequências nefastas da destruição ambiental no município?
No que tange os animais não humanos, parte integrante do meio ambiente urbano, presentes nos rios, nos mares, nos ares, nos resquícios de mata atlântica, nas praças, nas vias públicas do município e nas casas dos cidadãos laurofreitenses, sob condições diversas e adversas… quem se sensibiliza? Quem enxerga os invisíveis, senão na perspectiva da exploração e do utilitarismo?
É sob essa lógica que o município de Lauro de Freitas tem, equivocadamente, se posicionado. Ao longo dos seus 56 anos é lamentável observar que, no que se refere às questões ambientais, há uma incapacidade ou uma deficiência na percepção de elementos essenciais e preponderantes no processo de desenvolvimento social e urbano. Isso está posto na visão míope e na postura dos representantes, expressas na hierarquização, na fragmentação, na omissão, na negligência e até no desrespeito às normas vigentes o completo descaso com o meio ambiente, logo, com os animais, intrinsecamente ligados a este.
Espera-se parabenizar uma cidade pela atenção que institucionalmente deve dar a todos os indivíduos e coletivos que a compõem!
Espera-se parabenizar uma cidade por cuidar de todos os seres que a integram, sem classificações, sem distinção, sem especismo!
Espera-se parabenizar uma cidade pela competência e pelo preparo técnico (ou pelo menos a busca deste) por parte dos seus gestores!
Espera-se parabenizar uma cidade pela postura ecocêntrica dos seus governantes e legisladores, quando a enxergam enquanto um todo articulado e inter-relacionado e não enquanto ilhas de interesse, sob a égide da exclusão!
Espera-se, portanto, incessante, esperançosa e incansavelmente, poder parabenizar Lauro de Freitas.
Diretoria da REMCA – Rede de Mobilização pela Causa Animal.
Graça Paixão, Ludmila dos Prazeres Costa e Eveli Brito.