Esta edição homenageia em vida, outros personagens que fazem da cultura popular a forma de mostrar seu amor pela cidade de Lauro de Freitas. Esses nomes foram tema da exposição fotográfica Meu Olhar tem História, realizada pela escola Municipal Ana Lúcia Magalhães em parceria com o Rotary Club Lauro de Freitas, revista Vilas Magazine, Movimento de Luta das Pessoas com Deficiência e Idosas (MLPcDI), Gávea Cultural, Grupo Comunitário Ação e Secretaria Municipal de Educação. A homenagem faz parte da comemoração dos 60 anos de emancipação da cidade.
Manoel Raimundo Bispo dos Santos, nasceu em 1968, em Feira de Santana, vindo morar no bairro de São Cristóvão do Aeroporto, também chamado de Itinga, por causa da Fazenda Itinga, de onde seus avós foram colonos, no final do século passado. Raimundinho como é conhecido, desde os anos 80, participa ativamente dos movimentos culturais em Itinga, como as grandes gincanas que aconteceram até os anos 90 e a Lavagem do Caranguejo, junto com Adelmo Andrade, Pai César e outras pessoas interessadas em promover a cultura no município. Técnico em topografia, pavimentação e edificações, é graduado em Ciências Jurídicas pela Unime. Sempre presente e participante nas diversas ações culturais e sociais da cidade, atualmente se dedica a gravar documentários sobre a origem, principalmente dos habitantes do bairro.
Altamira Pereira, conhecida como Melândia ou Mestra Melândia, nasceu em 25/11/1953 no quilombo Quingoma, distrito de Areia Branca. Foi criada dentro da religião de matriz africana no terreiro de seu tio, finado Pórfiro, onde, com 5 anos de idade aprendeu a sambar, tocar atabaque e desenvolveu gosto pelas músicas de samba de roda, integrando o grupo Saia Rendada e atualmente desenvolve trabalho cultural com as Beijuzeiras de Areia Branca, onde tambem é baiana de acarajé (foi a primeira no ofício no bairro, há 40 anos). Trabalha com a manifestação do Sariguê que acompanhou quando criança e passou por muitas gerações. Gerou 10 filhos (oito estão vivos), que lhe deram 15 netos e quatro bisnetos. Altamira é uma guardiã da história local.
Firmino Teodoro dos Santos, 79 anos, nasceu em Muritiba e passou a infância em Cruz das Almas, até 1960, quando veio morar em Itinga. No bairro só existia uma casa construída. Ergueu a sua e montou a primeira mercearia da região. Vendia de tudo um pouco, e tinha, claro, a caderneta dos fiados. “Anotava as compras da semana para receber na sexta-feira. A mercearia durou 10 anos, “mas até hoje tem uns que ainda me devem”. Hoje aposentado, seu Firmino declara ser feliz em Itinga, mesmo depois do falecimento da esposa, em 2004.
Antônio José de Jesus, filho de Xangô, é natural de Matatu de Brotas, Salvador, e veio morar em Itinga, em 1969, aos 10 anos. Primeiro marinheiro em terras da Aeronáutica, passou a ser chamado de Tonzé da Bahia pelo envolvimento como compositor de blocos afro, afoxés e de índios. Integrou o grupo de jovens negros de Itinga, que fundaram a Asociação Carnavalesca Olodum Odé, participando do Carnaval da Bahia nas ccelebrando os 20 anos de emancipação política da cidade.
Ednalva dos Santos, primeira professora do Quilombo de Quingoma, guerreira, alegre, lutadora, matriarca e sambadeira.
Raquel Conceição Pereira, matriarca, sambadeira, mulher negra de fibra, cuida do Espaço Cultural Vovó Romana.
Aurenice Pereira Da Silva, nasceu no Quilombo Quingoma e mora em Areia Branca, onde participa do samba As Beijuzeiras de Areia Branca. Guerreira, mãe solteira e lutadora.
Francisca Conceição do Nascimento, matriarca, guerreira, mantenedora da capela São José, legado que herdou de sua mãe, Romana, umas das primeiras cuidadoras da capela.
Balbina de Melo, matriarca, mulher forte, lutadora, viveu sua vida na pesca, lida com plantio e ervas.
Fernando Melo, entendedor das ervas medicinais, curador e pajé comunitário, faz garrafadas para qualquer enfermidade. Um dos mais velhos batedores de pandeiro e atabaque, é um ancião repleto de experiências ancestrais, protetor das matas sagradas.
Pedro Gomes, 80 anos, é retirante de Barbalha (Ceará). Chegou em Lauro de Freitas em 1975, onde encontrou as melhores oportunidades de trabalho. Como carpinteiro, participou do desenvolvimento do município, e assim criou seus 10 filhos junto com sua esposa Maria do Carmo.
José Ramos do Nascimento, nasceu em 1930, em Acajutiba. Chegou em Lauro de Freitas com 17 anos, e desde então mora em Itinga. Foi entregador de pães e posteriormente abriu um comércio de roupas no bairro, na atual praça José Ramos. Incentivado por João Leão, foi eleito vereador em 1966, e em 1996. Pai de 9 filhos com a esposa e já ‘perdeu a conta dos netos’. Aposentado, leva sua vida tranquila e feliz, ao lado da família.
Augusto César Farias, o Pai Cezar, nasceu em 1950, no bairro de Amaralina, Salvador. Babalorixá iniciado no candomblé em 1955, tornou-se Yalorixá Raimunda Santana, Mãe Mundinha da Baixa de Matatu de Brotas. Com 65 anos de dedicação aos orixás, sempre foi ativista e incentivador cultural. Criou o movimento afro cultural denominado Nagazubi.
Zulmira Silva do Espírito Santo, conhecida como d. Mirinha, é uma mulher forte e guerreira, nascida em Areia Branca. Mudou-se para o Centro aos 22 anos , quando casou com Francisco Caetano do Espírito Santo, o “Chico Garrião”, com o qual teve 14 filhos. Continua morando no mesmo endereço, próximo à Igreja Matriz de Santo Amaro de Ipitanga, onde participa das missas e atividades religiosas. Sendo uma moradora antiga, acompanhou toda a história e desenvolvimento de Lauro de Freitas. Tem 88 anos, é viúva, tem 9 filhos, 11 netos e 5 bisnetos.
Raimundo Gonzaga Diana, 72 anos, é conhecido nas corridas como Tião Corredor ou Diana. Natural de Salvador, filho de uma lavadeira e um engraxate, foi criado no bairro da Barra. Desde os 10 anos trabalhava como capoteiro de automóveis, impermeabilizador de lajes e piscinas. Na década de 1980, casou com Valda Maria e com os seis filhos vieram para Itinga, incentivado pela indicação de um amigo corretor. Aqui ainda não tinha anda, “era só lama e mata. As casas eram contadas a dedo”. Sua história com a corrida começou de brincadeira, no quintal de casa. Treinava correndo por vários bairros da cidade, como Jambeiro, Areia Branca, Parque São Paulo, Capelão. Tião participou de todas as corridas realizadas em Salvador a partir dos anos 90. Em 1999 participou da corrida em comemoração aos 37 anos de Emancipação de Lauro de Freitas, sendo o vencedor. Ao todo foram 35 anos de corridas. Quando parou, passava dos 60 anos. Ao todo Raimundo teve 18 filhos (todos com a mesma esposa, já falecida).
Nilzete Santos de Jesus (Ninas), nasceu no Nordeste de Amaralina, em Salvador, em 1963. Viúva, é mãe de Fabiana Magalhães e do advogado Fábio Magalhães. Antes de vir para Itinga, morou em Nova Brasília de Itapuã, onde conheceu e se apaixonou pelo samba. No final dos anos 80, quando veio morar em Itinga, abriu a primeira casa de samba do bairro. Naquele tempo, nos programas de rádio de Salvador, seu nome e dedicação ao samba já eram citados, se tornando muito conhecida. No início dos anos 90 começou a promover rodas de samba aos sábados e também a tradicional Segunda Espetacular, com a presença de sambistas baianos. O sucesso lhe rendeu o título de Primeira Dama do Samba.
Rizalva Sales nasceu em Areia Branca, em 1953. Beijuzeira, carrega a herança ancestral de sua bisavo,́ Vitória de Melo, cuja avo,́ Andresa de Melo, aprendeu e ensinou aos seus dezesseis filhos e netos. Essa herança secular permanece até hoje, com a reconstrução da antiga casa de farinha e feitura de beiju de forma artesanal. Mestra Zizi ou dona Zizi, assim conhecida por todos da comunidade, é mãe de 7 filhos,que lhes deram 9 netos e 1 bisneta. Com o falecimento da irmã, também beijuzeira, a missão da continuidade passa para a neta, Evanildes Santos. Em 2018 a casa de farinha se tornou também um espaço cultural onde fazeres e saberes são compartilhados no TBC – Turismo de Base Comunitário.
Nivaldo Portela Silva (Portela) é filho da Liberdade, em Salvador. Veio morar em Lauro de Freitas, após adquirir um terreno no Largo do Caranguejo e começou a trabalhar como barbeiro aos 13 anos de idade, com o seu pai. Portela é negro, orgulha-se de sua raça com toda a expressão que capta. Seus primeiros trabalhos foram óleo sobre tela, entalhe, depois gravuras. Autodidata e especialista em entalhes em madeira (xilogravura), seus trabalhos diferem dos demais por terem um desenho mais apurado e uma movimentação estudada. Concebe ainda criações abstratas de grande beleza, um artista nato. Outra vertente cultural é a lavagem do Caranguejo, da qual foi um dos fundadores. Idealizador do Bumba Caranguejo, elemento folclórico primaz para a cultura da Itinga, prestando homenagem ao seu Caranguejo.
Alzira de Jesus, 92 anos, é mais conhecida como Iaiá, apelido dado pelo seu pai. Nascida em Areia Branca, pelas mãos de uma parteira, nos tempos de Santo Amaro de Ipitanga, seu pai trabalhava na roça, plantando mandioca, de onde tirava o sustento da família. A mãe e a avó produziam farinha e beijú. Da infância lembra do ‘cozinhado’, brincadeira no quintal de casa, com as amigas. Gostava de participar dos festejos de ternos de reis – sob o olhar severo do pai – quando apreciava a dança da “burrinha” e de uma festa organizada por João Paulino, que vestia várias camadas de saias, uma por cima da outra, que eram tiradas durante as danças. Iaiá trabalhou na escola Esfinge, inicialmente como voluntária, na limpeza, sendo posteriormente contratada como zeladora. Dona iaiá teve 9 filhos e dedicou a sua vida para a criação deles.
Edson de Oliveira, 72 anos, é conhecido em Areia Branca por Edinho do Boi. Nascido pelas mãos de uma parteira, no Barro Duro, onde seu pai trabalhava na zona rural e a mãe como empregada doméstica. Na infância gostava de correr atrás de bois e caçar no mato, como um índio. Veio para Areia Branca em 1970. Festeiro, lembra de dançar lambada no forró de Chico Baiano e das festas de virada do ano em Areia Branca, quando moradores ‘enterravam o ano velho’ em um caixão. Construiu uma casa de farinha no seu terreno, para produzir farinha e beijú para o próprio consumo da família. Atualmente está aposentado e leva a vida com alegria, sempre com um sorriso no rosto.