Mesmo sem data definida, possibilidade de retorno às aulas de forma semipresencial divide opinião de pais

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    Maria Eduarda Lobão está no 5º ano do Ensino Fundamental e ao longo desse período de pandemia – mais de um ano –, por vezes já perguntou para a sua mãe, a nutricionista Mariana Lobão, quando poderia retornar para a escola. Mas junto com esse desejo, vem também o receio de um contato social mais intenso, entre colegas, por conta do coronavírus.

    Esse sentimento de Maria Eduarda é compartilhado por milhares de tantas outras crianças, adolescentes e principalmente pelos pais, a quem cabe a decisão de aderir ou não ao retorno das atividades escolares, mesmo que no princípio apenas na modalidade semipresencial.

    Desde abril, o Governo da Bahia autorizou, via decreto, a retomada das atividades escolares, na modalidade semipresencial, para escolas públicas e privadas. Como critério para a retomada foi avaliado o índice da taxa de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva – UTI em percentual igual ou menor a 75%, por um período de pelo menos cinco dias consecutivos.

    As escolas devem seguir protocolos como ocupação máxima de 50% da capacidade de cada sala de aula, uso obrigatório de máscaras pelos alunos, professores e pessoal administrativo, distanciamento de no mí nimo 1,5 metro entre as pessoas, disponibilização de álcool gel a 70% em quantidade compatível à estrutura, higienização, por turno, das áreas de uso frequente, como corredores, maçanetas, bibliotecas, salas de aula e salas administrativas.

    Mas apesar dos protocolos, Mariana não se sente pronta para mandar a filha para a escola. “Acho muito inseguro ainda, pois as crianças são difíceis de controlar as emoções, manter-se de máscaras, não abraçar os colegas. Com relação a higienização nem tanto, pois sei que a escola é muito rigorosa com relação a isso. Mas me preocupo com a aglomeração, pois são crianças de familiares diferentes e infelizmente nem todos se cuidam como deveriam”, frisou.

    Mesmo com o argumento de psicopedagogos de que as aulas remotas comprometem muito na socialização das crianças, Mariana entende que é mais seguro tratar futuramente um prejuízo ou trauma neste sentido do que expor a filha a uma possível contaminação por Covi-19. “Como em outros lares, aqui também precisamos ajustar nossa rotina, mas por um lado me sinto mais segura com Maria Eduarda em casa. Quanto ao aprendizado, entendo que a assimilação e compreensão de conteúdo é algo muito pessoal. Minha filha tem TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) e sempre precisei acompanhar mais de perto os seus estudos”, finalizou Mariana.

    SEGUINDO OS PROTOCOLOS, AS CRIANÇAS ESTARIAM MAIS SEGURAS NAS ESCOLAS DO QUE FORA DELAS
    Mas não são apenas os pais que estão divididos quanto ao retorno das atividades nas escolas.
    Apesar do decreto estadual, Lauro de Freitas e outros 11 municípios, do Consórcio Metro Recôncavo   Norte   e do Consórcio Baía de Todos os Santos, optaram por não definir uma data de retorno. Segundo nota divulgada pelos municípios, o número de óbitos, as novas variantes e a contaminação entre pessoas mais  jovens,  além  da  imunização dos trabalhadores da Educação ainda não estar completa, pontuam entre os motivos para a tomada de decisão.

    Enquanto as aulas não retornam, a terapeuta Tiana Souza segue com a nova rotina de mãe e professora das filhas Marina e Milena. “Elas estão sentindo muito a necessidade de retornar às   aulas presenciais, não só pela dinâmica e interesse pelos estudos que o ambiente gera na criança, como, e principalmente, pelo convívio social. O que tem afetado bastante a questão emocional”, ressaltou.

    Tiana faz parte do grupo de pais que se sente segura quanto ao retorno das atividades presenciais. Além da confiança nas escolas, sobretudo quanto ao cum- primento dos protocolos exigidos, ela destaca que, querendo ou não, grande parte das crianças já está tendo algum tipo de contato com outras crianças, por exemplo, em condomínios fechados onde moram, e que nesse cenário, estar nas escolas seria muito mais confiável.

    “Os fatores que me deixam insegura, são aqueles que trazem a insegurança em qualquer aspecto dentro desse quadro de pandemia. A insegurança de ir ao supermercado, de ir ao consultório médico, de ir no comércio e até   mesmo de estarmos trabalhando. Não estamos totalmente livres do contágio, e os cuidados devem ser redobrados. O medo sempre existe, mas não quero deixar que ele tome conta da nossa vida. Quanto aos protocolos de segurança e higiene das escolas, acredito que todas as duas (são escolas diferentes as das minhas filhas) estejam devidamente preparadas. E quanto ao comportamento das crianças, acredito também, que as escolas tomarão os cuidados necessários”, frisou.

    Mariana está no 1º ano do Ensino Médio e Milena no 4º ano do Ensino Fundamental. Para manter os estudos, foi necessário adaptar a casa, criando ambientes diferentes para as meninas, fazer uma redistribuição de aparelhos eletrônicos, como notebook, tablet e celular, para que cada uma tivesse o seu dispositivo para assistir às aulas, além de aumentar a capacidade da internet e reorganizar a rotina estipulando limites de acessos para estudo e lazer.

    “Quanto ao aprendizado não posso dizer que é o mesmo padrão. É impossível manter o padrão de aulas presenciais e onlines. Mas vejo como uma readaptação do que é preciso manter em termos de conteúdo, carga horária, etc., e o que é possível rever e alterar. A aprendizagem não é mais a mesma e nunca mais será. Acredito que o ensino online veio para ficar e as escolas não poderão voltar totalmente ao formato de antes, tudo evolui e muda. Portanto, o padrão de aprendizagem não é o mesmo. Nem melhor, nem pior, mas diferente”.

    Sobre a necessidade de um retorno das atividades presenciais o mais breve possível, Tiana acredita que é fundamental, sobretudo pelo aspecto mental e emocional de todos. “ A rotina de aula totalmente online tem afetado bastante as famílias. As crianças são as que mais sofrem. Os conteúdos e a aprendizagem sofreram readaptações, mas do âmbito mental e emocional o que as aulas online tem provocado podem causar efeitos extremamente complicados. O tempo exato de quanto devemos permanecer com o ensino remoto, não sei precisar, mas o ensino híbrido, pelo menos, se faz urgente”, conclui.

    SEGUE O IMPASSE EM SALVADOR
    Diferente de Lauro de Freitas, a prefeitura de Salvador anunciou a retomada das aulas, de forma semipresencial, desde o dia 3 de maio, mas na prática não funcionou como esperado. Segundo declaração do prefeito Bruno Reis, na rede municipal de ensino apenas 15% dos professores voltaram à sala de aula. Entre os alunos a adesão é ainda menor, menos de 2%.

    O impasse se deve ao posicionamento dos sindicatos que representam os professores. Desde 27 de abril a APLB, que representa os professores da rede municipal, se pronunciou contrária ao retorno das atividades de forma semipresencial sem a vacinação completa (1ª e 2ª dose) de toda a categoria. A decisão foi tomada durante reunião da categoria, com a participação de dois mil professores da rede municipal, e apesar de reuniões com a prefeitura, a decisão se mantém.

    Igual postura é adotada também pelos professores da rede particular, representados pelo Sinpro-BA. A última reunião aconteceu em 24 de maio, e a maioria decidiu manter o indicativo de greve e de não retorno às salas de aula até que toda a categoria esteja imunizada contra o coronavírus.

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