Morro de São Paulo

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Visitantes encaram altos e baixos que dão acesso a mirantes e praias com piscinas naturais
 
Se está pensando em conhecer Morro de São Paulo, aqui vai um conselho: leve pouca coisa ou apele para mala de rodinha. Isso, claro, se pretende carregar a bagagem por conta própria até o hotel.
 
A vila está a cerca de 60 quilômetros de Salvador (em linha reta), na ilha de Tinharé, que pertence ao município-arquipélago de Cairu. Este, por sua vez, engloba a ilha de mesmo nome, a ilha de Boipeba e outras 23.
 
 
Logo após a chegada de barco ao Morro, o visitante já tem de enfrentar uma ladeira de tirar o fôlego – literalmente. Depois, encontra mais decidas e subidas, que fazem o destino inacessível a pessoas com dificuldade de locomoção.
 
Se não der para economizar nas malas, é bom pegar um “táxi”. Em Morro, isso significa contratar os serviços de um dos carregadores que ficam à espera dos visitantes no píer, com seus carrinhos de mão.
 
Ao todo, no povoado, são cerca de 200 carregadores, que se organizam em quatro associações: uma responsável pelo transporte dos pertences dos moradores e outras três que atendem aos visitantes. O preço varia de acordo com o tamanho da bagagem: R$ 10, R$ 15 ou R$ 20.
Carros não entram na ilha. Nas ruelas, circulam apenas pedestres. Há uma estrada de terra por onde passam veículos de serviço e de hotéis.
 

Quem visita Morro é obrigado a pagar uma taxa de R$ 15, independentemente do tempo de estadia. A cobrança é uma tentativa de restringir o acesso à vila, que tem em torno de 8 mil habitantes e recebe 400 mil turistas por ano, com maior procura no período de outubro a março. Entre março e julho, há outro fluxo importante: o de viajantes israelenses. Em geral, são grupos de jovens recém-saídos do serviço militar obrigatório, que descobrem o destino pelas redes sociais.
 
Partindo de Salvador, é possível pegar um catamarã para Morro (são duas horas e meia de viagem). Não é recomendado, porém, para quem costuma enjoar em embarcações.
 
A alternativa é fazer um trajeto marítimo-terrestre-marítimo, por conta própria ou por meio de operadoras de turismo. Nesse caso, são 40 minutos de barco até a ilha de Itaparica, uma hora e meia de ônibus até Valença e mais 12 minutos de lancha até Morro.
 
O portal do vilarejo, por onde passam todos aqueles que chegam, é o mesmo da Fortaleza de Morro de São Paulo. A fortificação começou a ser construída em 1630 para defender a região de invasores. Foi desativada em 1907 e acabou em ruínas, mesmo tombada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1938.
 
Após uma restauração, entre 2009 e 2017, o espaço ganhou estrutura para virar museu, cujo funcionamento ainda depende de licitação. Hoje, podem ser acessadas a parte externa do forte e a muralha de 678 metros para chegar até ele. A visita, gratuita, pode ser feita das 9h às 18h30, mas o horário de maior movimento é ao entardecer.
 
O pôr do sol é um grande evento em Morro. Outros locais perto da fortaleza são disputados pelos turistas para assisti-lo: o restaurante ao ar livre do hotel Portaló e, no alto do morro, o bar Toca do Morcego e o Mirante do Farol.
 
O lounge da Toca do Morcego tem mesas e pufes em meio às árvores e música eletrônica. Oferece uma das melhores vistas do entardecer – um pouco comprometida, porém, pela quantidade de selfies. A entrada custa R$ 15 e uma cerveja long neck, R$ 12.
 
Para ir ao mirante, é preciso continuar a subida por mais alguns minutos. No fim do caminho, à esquerda, chega-se a um deque, à beira de um barranco: uma vista igualmente bonita – e gratuita.
 
À direita, há outro mirante de onde se tem boa visão das praias. De lá sai uma tirolesa com 70 metros de altura e 340 metros de extensão. A descida custa R$ 50 por pessoa e acaba no mar, na Primeira Praia.
 
Em Morro, as praias são nomeadas em sequência: Primeira, Segunda, Terceira, Quarta e Quinta. Quanto menor o número da praia, mais perto ela fica da vila – e suas lojas, pousadas e restaurantes ao longo da rua principal.
 
Com mais ondas, a Primeira Praia é menos frequentada pelos turistas, que se concentram, sobretudo, na Segunda, em razão da boa estrutura de restaurantes e das águas tranquilas.
 
A Terceira é o ponto de saída dos passeios de barco. Já a principal atração da Quarta Praia são as piscinas naturais que se formam na maré baixa. Ali, nem é preciso mergulhar para ver peixes.
 
À frente, está a Quinta, também conhecida como praia do Encanto. Com poucos hotéis, é ideal para se afastar da muvuca. Quando a maré fica baixa, ganha uma larga faixa de areia, emoldurada por um manguezal.
 
Outra praia que merece ser visitada é a Gamboa do Morro. Dá para ir para lá de barco ou por uma caminhada de cerca de 40 minutos, a partir do píer de Morro de São Paulo. O percurso só pode ser feito na maré baixa e passa por meio de pedras e pontes não muito seguras.
 
Turistas lambuzados de lama dos pés à cabeça são sinal de que se chegou ao povoado da Gamboa do Morro. Ali, há um paredão de argila, anunciada como medicinal.
 
A praia tem quiosques para quem quer passar o dia no local e, para almoço, uma boa opção é o restaurante Nativas, na vila de pescadores. O arroz de polvo, para duas pessoas, custa R$ 110.
 
O viajante que não tem muito tempo pode ter uma noção geral do arquipélago ao fazer um passeio de barco de volta à ilha, que para em alguns pontos de Boipeba e no centro histórico do município, em Cairu. Custa R$ 130 por pessoa.
 
Quem diz ter criado o passeio é o Alemão, folclórico guia turístico de Morro. Capixaba, ele viajou para o povoado há 28 anos e, apaixonado pelo destino, por lá ficou.
 
Além de saber tudo sobre o arquipélago, Alemão é conhecido por se apresentar para os turistas com o seu trompete de mão – com a boca, faz o som do instrumento, simulando-o com as mãos. Se quiser conhecê-lo e não o vir tocando pelas ruelas de Morro, basta perguntar a qualquer morador, que com certeza saberá onde encontrá-lo.
 
Do outro lado do rio do Inferno, vizinha Boipeba é só sossego
 
Separada da ilha de Tinharé pelo rio do Inferno, Boipeba é só sossego. Não tem carro, música alta nem turistas para todo lado. O celular também pega mal por lá.
 
As praias, pelo menos fora da alta temporada, são quase desertas. No começo de setembro, havia mesas de sobra no restaurante do Guido, que prepara a lagosta mais famosa da ilha, na praia da Cueira. A 20 minutos de caminhada da vila de Boipeba, a praia é uma das mais bonitas da região, com altos coqueiros que fazem sombra à faixa de areia.
 
Guido começou ali há 36 anos, servindo o prato aos turistas em um carrinho de mão. Com o sucesso, montou o próprio restaurante, mas ainda cozinha no meio da praia, em um fogão a lenha fincado na areia. Uma lagosta na manteiga, para duas pessoas, sai por R$ 150. O drinque Boipeba é um dos mais pedidos, feito de vodca, abacaxi, manjericão, manga, tomate e maracujá. Custa R$ 20.
 
Mas a baixa temporada tem suas desvantagens. Ao passar de barco sobre as piscinas naturais de Moreré, mal dá para reconhecer as fotos vistas durante o planejamento da viagem, que mostravam um mar cristalino, à la Caribe.
 
É entre os meses de novembro e março, quando as águas ficam mais claras, que é possível aproveitar melhor o mergulho por ali.
 
 
Mas em qualquer época vale visitar a Ponta dos Castelhanos, no sul da ilha. No encontro do rio Catu com o oceano, forma-se uma ponta de areia que fica à mostra na maré baixa, assim como um banco de corais. A forma mais fácil e segura de chegar é de barco, mas também há trilhas até lá.
 
Na praia, uma barraca de pastel, com versões bem recheadas, faz sucesso com os turistas. O pastel de lagosta com banana sai por R$ 14.
 
Perto dali, no fundo do mar, está o navio espanhol Madre de Dios, que afundou na região em 1535. Os restos da embarcação ainda podem ser vistos por quem mergulha com cilindro na região.

Preços coletados em setembro/18, quando foi feita a reportagem.

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