Produtos a preço de banana; e a banana a preço de ouro

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Produtos a preço de banana

A expressão que vem desde os colonizadores europeus, “a preço de banana”, tem ficado cada vez mais rara no vocabulário brasileiro. É que desde o início da pandemia uma comunhão de fatores, dentre eles a inflação, tem impulsionado a alta dos preços em todos os segmentos, sobretudo alimentício, combustíveis e energia elétrica. Não à toa, economistas já apontam para a possibilidade do país entrar em estagflação, fenômeno onde presenciamos o aumento da taxa de desemprego associada à inflação, com aumento contínuo de preços.

Falando mais diretamente da banana e a alta de preços dos alimentos, a cesta básica do baiano, que em janeiro de 2019 custava R$353,43, hoje não sai por menos de R$540,01, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – DIEESE. E vejam que Salvador aparece entre as capitais com o menor valor no país, ficando à frente apenas de João Pessoa (R$538,65) e Aracaju (R$507,82). São Paulo é a capital com o maior valor médio, R$713,86.

Tomando por base a cesta básica de São Paulo, o salário mínimo do brasileiro, para a manutenção de uma família de quatro pessoas, deveria ser o equivalente a R$5.997,14, ou seja, quase cinco vezes maior que o piso atual de R$1.212,00. Mas o que isso significa na prática? Significa que cada vez mais as famílias estão abrindo mão de itens considerados básicos, inclusive na alimentação, contribuindo para o aumento substancial dos que sofrem com a insegurança alimentar, seja ela leve, moderada ou grave.

Em se tratando de insegurança alimentar grave, estamos falando das mais de 19,1 milhões de pessoas que passam fome no país. Vale lembrar que essa não é uma consequência da pandemia da Covid-19, mas foi agravada por ela. Estima-se que apenas nos dois últimos anos, nove milhões de brasileiros e brasileiras entraram para esse triste grupo, aumento que fez com que o Brasil voltasse a aparecer no Mapa da Fome divulgado anualmente pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.

Essa realidade até pode parecer distante, mas é bem provável que a sua família já sinta os impactos da insegurança alimentar leve, quando há uma preocupação ou incerteza sobre o acesso aos alimentos no futuro, além de perda na qualidade dos alimentos consumidos, priorizando a quantidade. A nutricionista Carla Tissianel (@carlatissianel_nutri) destaca que a crise econômica, agravada pela pandemia, está fazendo com que a insegurança alimentar se alastre inclusive entre as famílias que não se encontram em condição de pobreza. “Insegurança alimentar é quando alguém não tem acesso pleno e permanente a alimentos. As consequências de se viver em insegurança alimentar passam pelo sobrepeso, quando há aumento no consumo de alimentos de alta densidade energética e baixo custo”, estima a profissional.

Voltando à banana, no acumulado dos últimos 12 meses, a banana-prata registrou aumento de 29,77%. Mas acreditem: ela não é a única vilã! Frutas como mamão e manga, registraram aumentos de 41,48% e 41,96% respectivamente. Ítens do café da manhã, como queijo (31,62%), pão francês (9,30%), margarina (23,70%) e o café (59,30%) também ficaram mais pesados. Isso sem falar no almoço, já que os ovos aumentaram 15%, o frango em pedaços 28,27% e o tomatinho da salada já chegou a 55,77% (Dados do IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, tabela janeiro de 2022).

Carla Tissianel reforça que culturalmente, tirando o feijão com arroz, prato simples de preparo, mas complexo no que diz respeito aos nutrientes que fazem nosso organismo funcionar, o brasileiro não possui o hábito de consumir alimentos protetores, como frutas, verduras, legumes e grãos integrais, dando preferência aos alimentos ricos em gorduras e açúcares. Com a renda cada vez mais comprometida, ela teme que o padrão alimentar fique cada vez mais negligenciado.

“Geralmente as escolhas estão nos alimentos de baixa qualidade nutricional, ricos em sal, gorduras e açúcares. Mesmo as principais refeições ficam também prejudicadas; o termo ‘fast-food’ já indica que a pessoa vai se alimentar de forma rápida, e quase sempre com alimentos pobres em nutrientes e acompanhados de refrigerantes. Os resultados da má alimentação são o aumento da obesidade, dos casos de diabetes e outras doenças”.

A nutricionista frisa ainda que a faixa etária mais prejudicada diante da insegurança alimentar é a das crianças, já que a condição pode comprometer o crescimento e o desenvolvimento físico e cognitivo.

Enquanto a banana segue a preço do ouro, uma forma de garantir uma boa alimentação é apostar na sazonalidade e na combinação de alimentos. “É importante ter uma alimentação com base em alimentos in natura e minimamente processados. Opte por alimentos que estão na safra, esses sempre terão menor preço, comprando diretamente dos produtores nas feiras. Além disso, para garantir os aminoácidos essenciais de uma refeição, é possível combinar leguminosas, cereais e folhosos verde escuro, por exemplo. Outra opção é substituir os produtos que estão mais caros. Um filé de carne de 100 gramas tem entre 22 a 25 gramas de proteína. Um ovo, por sua vez, tem entre 6 e 7 gramas de proteína. Ou seja, aproximadamente três ovos substituem 100 gramas de filé de carne.”

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