A Oscip Rio Limpo lançou em setembro o objetivo de recuperar um “fluxo mínimo de água bruta” na calha do rio Joanes a jusante da barragem do Jambeiro – onde hoje não corre nada porque a prioridade é a captação no reservatório para o abastecimento de Salvador e Lauro de Freitas.
A água que chega a Buraquinho pela calha do Joanes é, na verdade, apenas a água poluída do rio Ipitanga, um dos seus afluentes. Como as comportas da barragem estão seladas, ela só verte água quando chove em excesso, transbordando o reservatório – e causando alagamentos nessas ocasiões.
Reunião no Riverside Hotel, às margens do Joanes: grupo permanente
Numa apaixonada “carta ao rio Joanes”, os participantes de uma reunião no Riverside Hotel – incluindo a própria gerente geral Rosângela Schindler – contam que estiveram “refletindo e contemplando as belezas naturais do seu corpo”. Poeticamente redigida, a carta prossegue prometendo o fim do lançamento de esgoto no rio e a recuperação do fluxo de água.
Mas a discussão da Rio Limpo era mais objetiva e menos romântica. Para Caio Marques, comandante da Oscip, a devolução do fluxo de água tem de ser uma prioridade. Já para Júlio Mota, superintendente de assuntos regulatórios da Embasa, que participou da reunião, abrir as comportas da represa Joanes I, no Jambeiro, é matéria para muita verificação, já que o abastecimento de água à população é prioridade. Dar vazão ao reservatório é possível, mas poderia colocar em risco o abastecimento.
De acordo com Mota, há técnicos na Embasa que defendem o fim da captação de água naquela barragem devido aos custos do tratamento. Além disso, com a recente conclusão do esgotamento sanitário de Camaçari – porque, ao contrário de Lauro de Freitas, o município vizinho já tem esgotamento sanitário – o volume de água que chega à represa será drasticamente reduzido ao longo dos próximos anos. A engenharia da empresa busca uma alternativa para minimizar esse efeito.
Plano inexistente
O grupo pretende reunir-se periodicamente para tratar do tema. Uma das primeiras missões será descobrir que o Plano Municipal de Saneamento Básico de Lauro de Freitas ainda não saiu da estaca zero.
A nova secretária de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Lauro de Freitas, Ana Carolina André Rabelo, não encontrou nada nas pastas – e o Ministério Público também já perguntou pelo plano, que é obrigatório. No cargo há um mês, Rabelo substitui a indicação política anterior, que o período eleitoral transformou em oposição.
O Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) de Lauro de Freitas, que continua sem verba à vista para conclusão da obra, foi assunto de destaque na reunião. A obra é de responsabilidade da Embasa, autarquia do governo do Estado e conta com verbas federais – nada tendo a ver com o município.
Concluído o duto da Paralela que levará o esgotamento ao emissário submarino da Boca do Rio, vão sobrar cerca de R$ 40 milhões para dar funcionalidade ao que for possível, dentre o que já existe em tubulação instalada. Para a maior parte da cidade ainda será necessário buscar mais recursos financeiros. Em tempos de ajuste econômico e corte de investimentos públicos, a percepção é de que a verba apenas não virá.
As comportas da barragem do Joanes, seladas há muitos anos: rio seco