Sossego com vista para o mar

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Entre as praias do Litoral Norte, tão conhecidas dos baianos, esconde-se um sossego que atende pelo nome de Santo Antônio. Ao contrário das badaladas vizinhas, Praia do Forte, Imbassaí, Porto de Sauípe, suas areias abrigam poucos visitantes, um punhado de moradores e uma imensidão de calma e silêncio, boa para quem quer viver a natureza, em todo seu esplendor.
 
“Tá ouvindo? O barulho que agente tem aqui é esse: os passarinhos e as folhas balançando com o vento”, diz Wellington Cordeiro, que mantém uma pousada no local.
 
Para chegar à vila, há dois caminhos: quem estiver em Diogo pode ir caminhando pelas dunas, coisa de 20 , 30 minutos, a depender da disposição; e quem estiver de carro segue pela Estrada do Coco (são cerca de 60 km de Lauro de Freitas) até encontrar uma grande placa que indica a entrada do lugar. É também o marco para o fim do asfalto.
 
VILA DE SANTO ANTONIO: Mar aberto e piscinas naturais em um cenário deslumbrante. A cerca de 60 Km de Lauro de Freitas, próximo a points agitados da Linha Verde, ainda é possível experimentar a tranquilidade de uma praia paradisíaca.
 
A estradinha de terra que leva a Santo Antônio tem cerca de 3 Km. Num tempo recente, carro nenhum entrava lá, era só jegue, mas agora há esse progresso, de tal modo que já existe até um estacionamento.
 
Logo se avista o acesso à praia, propriamente, e aí é preciso seguir a pé.
 
A princípio, só dá para ver as dunas de areia fofa e os coqueiros compridos, nada de água. Mas tenha coragem, que a subida curta logo é recompensada. Tem mar aberto para quem for de mar aberto, e perto das pedras se formam piscinas naturais para ficar de bobeira, se refrescando e vendo o tempo passar, ou brincando despreocupadamente com alguma criança que se leve.
 
E, pensando bem, praia deserta só é uma ideia boa à distância, no plano dos sonhos. Na prática, é melhor contar com a conveniência de uma barraca onde se possa beber uma cerveja, tomar um guaraná, parar para almoçar. Por ali são oito delas, que para compor o cenário bucólico, são feitas de madeira e recobertas com palhas dos coqueiros.
 
Muitos dos que chegam passam o dia na praia e depois vão embora, mas há quem queira ficar por mais tempo, num intensivão de desanuviar os pensamentos, reaprender o que seja tranquilidade. E aí pode-se escolher alugar uma casa ou ficar numa das cerca de 10 pousadas da vila, todas sem grandes luxos. Para comer, há cinco restaurantes, quase todos da mesma família.
 
Os moradores também são quase todos parentes, os Mendes. Francisco Batista Mendes, 77, conta que seus familiares vivem ali há mais de 100 anos – ele mesmo nasceu lá. Alinham-se em poucas ruas de casinhas coloridas, como costumam ser as moradas do interior, um jeito de dizer que é uma grande bestagem, coisa de gente sem imaginação, ter uma casa e pintá-la de branco.
 
Há cerca de vinte anos, Francisco abriu o primeiro restaurante da vila, o Maria Moqueca, batizado com o nome de sua mulher, Maria José Silva, com quem vive há 53anos e com a qual teve 12 filhos. No começo era só uma barraquinha para abastecer os trabalhadores que estavam construindo o Complexo Costa do Sauípe. Iam até lá a pé nos dias de folga para tomar uma pinga. Só depois é que o estabelecimento ganhou ares turísticos, com mesinhas espalhadas numa área coberta em frente à varanda.
 
Pegados estão outros dois restaurantes, da sua irmã e do seu primo.
 
Seu Francisco era pescador, andava por aí de jangada a “70 braças de fundura”, como diz, tão longe que não se avistava mais a terra, mas agora está aposentado. 
 
Dos seus filhos todos, só um quis seguir a lida, e ainda assim complementa o sustento com o trabalho de pedreiro. De modo que, hoje, para abastecer o restaurante, é preciso comprar peixe. “Já pensou?”, Francisco pergunta, abismado.
 
O fato repetiu-se nas casas vizinhas.Os moradores hoje vivem mais do turismo, trabalhando nos grandes hotéis das cercanias ou atendendo aos visitantes que chegam às barracas e pousadas da vila. Algumas mulheres se ocupam do artesanato, produzindo bolsas e esteiras de piaçava. Alheios a maiores preocupações, os meninos pequenos correm e brincam.
 
PRIMO POSTIÇO
O mineiro Wellington Cordeiro e a esposa Jacira, soteropolitana, são uns dos poucos ‘estrangeiros’ da vila, mas já foram devidamente adotados. “Meu apelido é primo”, conta Wellington. “E quando tomam uma, aí chamam de prima”, ri.
 
Juntos, eles montaram há três anos a Pousada Santo Antônio. Buscavam um lugar isolado e bonito para mudar de vida, deixando a correria de Salvador, onde viviam. Ele trabalhava como dentista; ela, como publicitária.
FOTO: A pequena duna oculta o mar da vila, que possui pousadas e restaurantes, entre eles o do casal Francisco Mendes e Maria José , moradores de lá, casados há 53 anos.
 
E quem é que pode dizer que essa não foi uma boa troca? “Não aceito mais que se desmanche o negócio”, declara Wellington.
 
No esquema bed and breakfast, a pousada tem três quartos, com diárias que variam entre R$ 240 e R$260. O casal está construindo mais dois. Os turistas chegam de Salvador, principalmente, mas também de Aracaju, Goiânia, e até de fora do país. Já receberam hóspedes da França, Alemanha e até da Islândia.
 
No quintal, tem lugar de acender fogueira e tocar violão, olhando a lua, escutando o mar, “contando mentira”.
 
E tem programa melhor?

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