Diagnóstico precoce é a maior arma contra o CÂNCER DE MAMA

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O número de mortes no Brasil em decorrência do câncer cresceu mais de 30% desde o ano 2000, atingindo em 2017 mais de 218 mil pessoas. Segundo estimativas do INCA – Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, deverão ser diagnosticados 324.580 novos casos em homens e 310.300 novos casos em mulheres no biênio 2018-2019, o que reforça a importância de falar sobre a doença e sobre prevenção.
 
Este é o objetivo, por exemplo, da campanha conhecida como Outubro Rosa, que desde a década de 1990 realiza diversas ações pelo mundo para a prevenção do câncer de mama, desde a iluminação de monumentos e prédios públicos, à distribuição de laços cor de rosa (símbolo da campanha), palestras e ações comunitárias, como os mutirões para realização de exames. Essa campanha tem um papel relevante sobretudo no Brasil, pois o câncer de mama é o tipo que mais atinge as mulheres no país, cerca de 30% do casos, e em 2017 provocou o maior número de mortes no período, 16.724 mulheres.
 
Essa incidência de câncer de mama nas mulheres está associada às questões hormonais, bem como a hereditariedade, nuliparidade e estilo de vida, como destaca o oncologista Rafael Batista, do NOB – Núcleo de Oncologia da Bahia, em Lauro de Freitas. “Questões como obesidade e má alimentação, nuliparidade, ou seja, não ter filhos, não amamentar, são fatores de risco para o câncer de mama. E ser mulher, por si só, já é um fator de risco por conta do ambiente hormonal. Quando falamos da questão da nuliparidade é porque quando a mulher engravida ela passa por períodos de menor exposição ao estrogênio, e isso diminui o risco de desenvolver um câncer. Quanto à hereditariedade, hoje cerca de 10% dos tumores estão relacionados a essa questão, e fazer o acompanhamento periódico faz toda diferença”, frisa. 
 
O diagnóstico precoce ainda é a maior arma contra a doença, e neste contexto a mamografia tem um papel fundamental.
 
Realizada pela primeira vez em 1950, a mamografia representa um importante avanço tecnológico na luta contra o câncer de mama, e estimulou o surgimento de novas pesquisas na área, permitindo que a medicina ofereça hoje exames 3D, além de artifícios para minimizar os impactos da quimioterapia e novas classes de medicamentos.
 
1° PASSO: DIAGNÓSTICO PRECOCE
Existem vários tipos de câncer de mama, com formas de evolução diferentes. Os mais comuns são os do tipo histológico, que estão relacionados ao local onde o tumor surgiu e o modo como se desenvolve; e tipos moleculares, definidos pela presença, nas células do tumor, de proteínas chamadas receptores hormonais (estrogênio e/ou progesterona) e de proteína HER2 em grande quantidade.
 
Segundo o oncologista e coordenador do Instituto de pesquisa Professor Carlos Aristides Maltez e médico da CLION – Clínica de Oncologia, do Grupo CAM, Jorge Leal, os avanços da ciência estão presentes no tratamento do câncer de mama, mudando a história da doença. Ele participou em setembro, do 2º Simpósio Internacional de Tumores Femininos, realizado em Salvador, destacando um desses avanços, aprovado recentemente pela Anvisa, que é a imunoterapia, que se mostrou eficaz em diversos casos de câncer de mama do tipo metastático.
FOTO: Segundo o oncologista e coordenador do Instituto de pesquisa Professor Carlos Aristides Maltez, Jorge Leal – e médico da CLION – Clínica de Oncologia, do Grupo CAM –, os avanços da ciência estão presentes no tratamento do câncer de mama, mudando a história da doença.
 
“Podemos destacar também importantes descobertas nos últimos anos, de novas medicações para pacientes que desenvolvem o tipo molecular de câncer de mama, aumentando a possibilidade de chances de cura. Existem hoje pesquisas em andamento, trazendo a medicação para o momento após a cirurgia da paciente. Mas cabe frisar que o câncer de mama, apesar de ser uma doença local, que atinge a mama da paciente, tem a capacidade de liberar micro células na circulação sanguínea e dessa forma se expandir para outras partes do corpo, por isso o diagnóstico precoce é tão importante para a chance de cura”.
 
E quando falamos em diagnóstico precoce lembramos imediatamente do autoexame das mamas. Ensaios clínicos realizados nos Estados Unidos no final da década de 1990 mostraram que o autoexame, por si só, não estava reduzindo o índice de mortalidade pela doença e adotaram como nova estratégia a política de alerta à saúde das mamas, que orienta para a realização da autoapalpação, nos momentos em que a mulher se sentir à vontade e sem obedecer critérios técnicos, além do esclarecimento da importância de se consultar um médico regularmente.
 
“O autoexame é importante para se conhecer, conhecer o próprio corpo, saber o que tem de diferente, mas não anula a necessidade de procurar um médico. Atendo também pelo SUS e é comum receber pacientes que procuraram o médico quando já estão com o nódulo, e isso não é o ideal. A mamografia entra neste contexto possibilitando um diagnóstico precoce; quanto mais cedo do diagnóstico maiores as chances de cura”, destaca o médico Rafael Batista.
 
Cada país determina uma política de rastreamento do câncer de mama, e no Brasil, conforme revisão das Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama (2015), a mamografia é o método utilizado, por apresentar eficácia comprovada na redução da mortalidade. Aqui existe uma discordância apenas quanto à regularidade do exame: a recomendação do INCA é para a realização de mamografias nas mulheres de 50 a 69 anos a cada dois anos. Já a Sociedade Brasileira de Mastologia e a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica recomendam a mamografia anual, a partir dos 40 anos.
 
FALAR DE CÂNCER NÃO É SENTENÇA DE MORTE
“Tenha hábitos de vida mais saudáveis, não fume e não beba em excesso, se alimente melhor, pratique um exercício”. Ao menos uma vez este ano você já deve ter ouvido essa recomendação de um médico ou profissional de saúde, talvez até de sua mãe ou de um estranho qualquer, e você deve dar ouvidos.
 
Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde e divulgada no final de 2018, aponta as cinco doenças que mais matam no Brasil atualmente, e todas estão associadas ao estilo de vida contemporâneo e as negligências ligadas com a falta de prevenção e o uso inadequado de remédios farmacêuticos. O câncer fica atrás apenas das doenças do coração e do aparelho circulatório.
 
A conscientização assume então um papel importante. Estima-se, por exemplo, que com pequenas mudanças, como a alimentação e atividade física regular, é possível reduzir em até 28% o risco da mulher desenvolver câncer de mama.
 
Mas além das mudanças no estilo de vida, é preciso agora quebrar uma nova barreira: o medo de falar sobre o assunto. “Sempre tem novos tratamentos surgindo, a inovação está presente, e em pacientes metastáticos já existem medicamentos que garantem uma sobrevida, e quando a doença não é metastática ajuda a aumentar as chances de cura. Mas se mantrivermos uma saúde preventiva efetiva não precisamos chegar neste estágio, se cura muito mais, gastando muito menos, não precisa expor a paciente. Daí a importância do Outubro Rosa, de falar de medicina preventiva, de médico de família. Falar de câncer não é sentença de morte; quando descoberta precoce, é sentença de vida, e a medina hoje já consegue tratar 98% dos casos da doença em estágio inicial”.
 
CÂNCER E FAKE NEWS
Quimioterapia natural, aranto, fruta noni ou a famosa graviola. Esses são alguns dos termos que aparecem com frequência na Internet e em redes sociais, associados a uma possível cura do câncer, mas nada mais são do que fake news.
 
Levantamento realizado pela revista Veja, e publicado em julho de 2018, destaca que o câncer é o segundo tema mais frequente entre as notícias falsas compartilhadas no Facebook. Nessa lista estão que ‘beber suco de jaca cura câncer porque diminui os radicais livres no organismo’, ‘Médicos descobrem raiz que pode matar o câncer em menos de 48 horas’, e ‘combinação de dois remédios elimina câncer de mama em 11 dias, sem quimioterapia’. FOTO: “Questões como obesidade e má alimentação, nuliparidade, ou seja, não ter filhos, não amamentar, todos esses são fatores de risco para o câncer de mama” Rafael Batista, NOB – Núcleo de Oncologia da Bahia, em Lauro de Freitas.
 
“A Internet tem um papel importante. Para o médico, possibilita ter acesso a novas pesquisas, sem precisar esperar meses pela publicação em uma revista científica e participar online de congressos em qualquer parte do mundo, mas é preciso saber filtrar. Isso vale também para os pacientes. É possível encontrar informações muito boas sobre prevenção e rastreamento, e isso precisa ser divulgado. Mas o cuidado fica por conta de onde buscar essa informação. Sugiro sempre aos meus pacientes, a consulta em sites de grandes centros de pesquisa, que produzem informação. Agora, se o paciente está em busca de uma cura milagrosa, vai encontrar muitos absurdos, e o pior: se submeter a experiências sem qualquer comprovação científica, que pode vir até a piorar sua situação”, conclui o oncologista Rafael Batista.

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