Ter bons amigos pode ser a chave para a felicidade

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comemore o dia do amigo
FOTO: IMAGEM: DEPOSITPHOTOS

Você está cuidando bem dos seus amigos? Se a pergunta te fez refletir, talvez seja hora de reconsiderar.

Segundo o mais longo estudo já realizado sobre felicidade, a qualidade das nossas relações de amizade, está entre os principais indicadores de nossa felicidade e saúde à medida que envelhecemos.

Os dados fazem parte do “Estudo sobre o Desenvolvimento Adulto”, que teve início em 1938 na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

À época, cerca de 700 adolescentes, entre estudantes da universidade e moradores dos bairros mais pobres de Boston, começaram a ser acompanhados pelos cientistas. Periodicamente, suas alegrias e frustrações, bem como estado físico e mental, eram monitorados. Atualmente a pesquisa, que já tem 85 anos, acompanha também os parceiros e filhos dos participantes iniciais.

Segundo o psiquiatra Robert Waldinger*, quarto diretor do estudo, uma das descobertas mais interessantes é que manter relacionamentos calorosos durante a vida, torna o adulto menos propenso a desenvolver doenças, como o diabetes ou doença arterial coronariana.

Isso acontece pois quando temos com quem dividir problemas e dificuldades naturais da vida humana adulta, seja presencialmente ou até mesmo através de uma ligação, diminuímos os níveis de estresse. 

O estudo apresentado pelo médico Robert Waldinger, apontou que o grande segredo da felicidade é ter e manter boas relações. “Cultivar amigos, tornar-se flexível para se relacionar é uma boa receita para manutenção da saúde física e mental”, frisou a psicóloga clínica e organizacional Rafaela Nunes, entusiasta da pesquisa.

Amizade em números

A pesquisa de Harvard não é a única que trata de amizade e felicidade. Dentre as mais conhecidas está o número de Dunbar (1993), que segundo os cálculos do psicólogo e antropólogo da Universidade de Oxford, Robin Dunbar, é o número de relacionamentos estáveis e significativos que podemos manter ao longo da vida: 150 conexões, incluindo familiares e amigos.

Estudos mais recentes, divulgados em 2016, apontavam para algo em torno de seis, o número de amigos necessários para tornar nossa vida um pouco melhor. Outro estudo, este de 2020, dizia que as mulheres de meia-idade só precisam ter três amigas para aumentar seus níveis gerais de satisfação. 

psicologa fala sobre a importancia das amizades

Para Rafaela Nunes, estabelecer um número ideal é algo muito complicado. “Arrisco dizer que não há um número fechado pois as relações e a quantidade delas dependerá do ambiente em que a pessoa vive, do tipo de vida que a pessoa levou, da personalidade e dos objetivos em relação às conexões. Todos esses fatores influenciarão a quantidade e a qualidade das relações que a pessoa manterá ao longo da vida”, afirmou.

Sobre a quantidade de amigos, Robert Waldinger destaca ainda que, para pessoas muito tímidas, se relacionar com muitas pessoas se torna, inclusive, algo estressante, o oposto do que se busca em termos de felicidade. Então, antes de sair em busca de todos os amigos do mundo, cada pessoa deve se conhecer e entender o seu limite social.

Com quem quero caminhar

“Uma vida boa não é o destino, mas o caminho e com quem você caminha… E fazendo isso, segundo a segundo, você pode decidir a que e a quem você dá sua atenção”. A citação é do mestre Zen australiano, John Tarrant, e nos faz refletir sobre como nos relacionamos com as pessoas que passam pela nossa vida. Se trata tanto da quantidade, como da qualidade que dedicamos à cultivar nossas amizades.

Sobre a quantidade, Rafaela destaca que o adulto acaba sendo mais inflexível para lidar com as diferenças. Além disso, os interesses já estão mais afinados, o que de certo modo, impede de se relacionar com as pessoas quando existe um choque muito grande.

“Na vida adulta as pessoas definem critérios e interesses, o que por um lado é saudável, mas por outro dificulta as novas conexões, pois uma vez que elegemos que algo não nos interessa tendemos a colocar uma barreira e evitamos contato com tudo relacionado àquilo, inclusive pessoas”.

Sobre a qualidade, as dificuldades estão relacionadas à distância, ao tempo, mas também aos vícios que adquirimos com as novas tecnologias de informação, como a atenção a coisa nenhuma ou atenção parcial contínua. O termo, cunhado nos anos 1990, associado à pesquisadora Lisa Stone, fala sobre como dividimos a nossa atenção por várias fontes de informação ao mesmo tempo, sem nos concentrar de verdade em nenhuma delas.

Robert Waldinger sugere que você faça as seguintes perguntas: “Com quem você se importa? Você poderia dar a essa pessoa toda a sua atenção?” Essa reflexão pode mudar consideravelmente a qualidade dos momentos dedicados a um amigo.

“As amizades maduras não necessariamente estão presentes na rotina da pessoa, as relações vão se fortalecendo com o passar do tempo. Lembre-se que a quantidade de amigos não determina a felicidade mas a qualidade vivida com eles. Há pessoas que preservam amizades desde a infância até a vida adulta e aquela pessoa passa a fazer parte da família, uma família escolhida, leve, sem tantas responsabilidades. Os amigos fazem a pessoa lembrar quem elas realmente são”, acrescentou Rafaela.

Menos likes e mais amigos

Mas será que é possível cultivar amizades quando existe, literalmente, uma tela nos separando? Por mais que não seja o cenário ideal quando pensamos em amigos, as redes sociais existem e não vão sumir das nossas vidas. Cabe encontrar a forma mais saudável de caminhar com elas.

“As redes sociais sem dúvida tiveram um papel super importante para resgatar relações e oportunidades de se acompanhar ‘de perto’ a vida de um amigo que está distante. O problema é que essa mesma rede social possibilita a frequência do distanciamento, que cada vez mais se torna comum, tornando os encontros mais escassos. Sem esse contato com o outro, as pessoas entram em um processo de ensimesmamento tornando-as cada vez mais intolerantes ao outro”, reforçou Rafaela. 

Robert Waldinger alerta para a forma como usamos as redes sociais. Se usada de forma ativa, ou seja, para estabelecer conexões, pode ser uma oportunidade de resgatar antigos vínculos e criar novos, como por exemplo quando fazemos lives como amigos que estão fisicamente distantes ou reencontramos colegas da época da escola.

Porém, o uso de forma passiva, quando simplesmente olhamos o feed e as fotos felizes, gera desconforto, pois entra em choque com a realidade dos problemas da vida adulta e quebra a ideia de pertencimento social que tanto buscamos. Lembre-se: ninguém publica foto feia ou triste! Mas quando consumimos as redes sociais apenas pelo feed, ficamos vulneráveis com a ideia de que ‘todo mundo está tendo uma vida boa e eu sou o único que está passando por momentos difíceis’.

“A rede social tem o seu papel mas não deveria ser considerado termômetro para contar amigos ou a felicidade. Amigo não necessariamente é o que te dá like, mas é aquele que vai vibrar com sua felicidade e te acolher quando for necessário, e não há uma função nas redes de relacionamento que validem isso”, concluiu Rafaela.

*Trechos da palestra de Robert Waldinger estão disponíveis na plataforma TED desde 2015, e já foram vistas mais de 45 milhões de vezes.

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