Há uma crescente preocupação entre pesquisadores, historiadores, empresas e instituições sobre a questão da preservação da memória e patrimônio histórico de Lauro de Freitas. Essa preocupação é sempre abordada em debates, simpósios, fóruns, grupos de discussões, além de uma vasta gama de livros, artigos e outros materiais que levantam a importância do assunto e está relacionada aos danos causados a memória e identidade histórica que conserva certas informações para que o passado não seja completamente esquecido.
A escola deve estar sempre atenta aos seus alunos, verificar seus anseios, pensamentos, o que lhes desperta atenção, oportunizando-lhe a socialização através de tecnologias, como o celular e a máquina digital, que são sempre presentes em seus cotidianos.
Buscando utilizar o recurso áudiovisual atrelado a preservação da memória, alunos do Ensino Fundamental 2, do 5º ao 9º ano, realizaram o projeto Meu Olhar tem História, resgatando, homenageando e preservando a memória de moradores mais antigos da nossa cidade.
Como parte da celebração pelos 60 anos de Emancipação de Lauro de Freitas, comemorado em 31 de julho, a Escola Municipal Ana Lúcia Magalhães, em parceria com o Rotary Club de Lauro de Freitas, Academia de Letras e Artes de Lauro de Freitas – ALALF, e a revista Vilas Magazine deram andamento ao projeto, homenageando 60 moradores antigos, que marcaram e contribuíram para desenvolvimento da nossa cidade valorizando o passado e o presente de Lauro de Freitas.
A exposição fotográfica será realizada no Cine Teatro de Lauro de Freitas, de 28 de julho a 10 de agosto. No local estava previsto acontecer, dia 29 de julho, uma homenagem aos moradores, com apresentação musical dos estudantes, e exibição de um vídeo com fotografias de todos os participantes do projeto.
Para o professor Antônio Cláudio, coordenador e idealizador do projeto, “saber a história dos moradores do bairro de Portão significa resgatar e preservar a tradição daqueles que contribuíram para que chegássemos aos dias de hoje. Trata-se de uma oportunidade única para compreender, inclusive, a nossa própria identidade”.
A partir desta edição, páginas da revista Vilas Magazine vão exibir, apresentados por bairros, um pouco da história de alguns de seus moradores. Iniciamos contemplando o bairro de Portão, onde foram homenageados os moradores Florisvaldo Soares de Azevedo (seu Paizinho), Aidê Nascimento dos Anjos (dona Aidê, a guerreira de Portão), Albelina Conceição de Melo (dona Helena), Francisco José da Silva (seu Quincas), Enerviria Franco Trindade (dona Vivi), Marcelino Santana (seu Larinho), Neusa Pinheiro Santana (d. Nelsinha), Maria José Brito Cruz (d. Zezé) com suas irmãs, Damiana de Brito e Maria de Lourdes Brito Bispo (d. Lurdinha), Eremita Sena de Sá (d. Ermita), Ester Maria de Conceição Oliveira (professora Ester ou Teté) e seu José Erasmo de Oliveira.
Na edição de setembro serão homenageados moradores mais antigos do Centro.
Aidê Nascimento dos Anjos ou “Guerreira de Portão”, como gosta de ser reconhecida, é uma mestra da cultura popular e moradora nativa de Portão. Com 67 anos, lembra da infância em Lauro de Freitas, que na época se chamava Santo Amaro de Ipitanga. Ela compartilha muitas lembranças, como as pescarias que costumava fazer nas margens do rio Joanes, as brincadeiras com boneca de pano, as canções de roda que fazia com as outras crianças da sua rua, que aconteciam durante a noite, mesmo sem energia elétrica e também as diversas participações em gincanas que aconteciam no bairro. Recorda de suas obrigações, como as inúmeras vezes que teve que ir, junto com os irmãos, buscar água na fonte do Dendezeiro, para encher os tonéis de casa e também quando levava um balaio cheio de roupas para serem lavadas no ‘paiti’. D. Aidê é responsável pelo Terno de Reis de Portão, da Burrinha e é parceira do Bankom
Francisco José de Souza, conhecido como “Quincas”, é morador de Portão há 51 anos. Herdando da família o amor pela panificação, e trabalhando na área desde os 18 anos, seu Quincas conta que um dos principais motivos de vinda para Portão foi a oportunidade de aqui fazer comércio, e para isso adquiriu um espaço e fundou a antiga Panificadora Portão, atual Padaria Pão do Céu. Hoje, seu Franscisco é um dos membros da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e um dos diretores da Associção de Proprietários de Padaria da Bahia. Seu Quincas declara que um dos maiores prazeres da sua vida era acordar cedo, todos os dias, e produzir pães para a comunidade.
Jacira Severina dos Santos Brito, 61 anos, nasceu, se criou e até hoje reside no bairro de Portão. Ela recorda de ter tido uma infância muito feliz no bairro, cercada de muitas brincadeiras. Na juventude trabalhou ralando mandioca pra fazer farinha, além de preparar beijús e pamonhas, para vender na Boca do Rio em Salvador. Atualmente Jacira dedica sua vida à família e à religião evangélica, onde frequenta fazem 23 anos, onde se tornou pastora.
Nelsa Pinheiro Santana, 83 anos, conhecida como Nelsinha, nasceu e se criou em Portão. Ela conta que sempre foi muito alegre, sempre gostou de sambar, e costumava participar de diversas festas populares em Portão, como o Terno de Venú.
Albelina Conceição de Mello, 82 anos. Veio morar em Lauro de Freitas em 1960, quando casou com o dr. Paulo Malaquias de Mello. Aqui formou família, sendo mãe de 6 filhos homens. Inspirada pela mãe, que era musicista, decidiu cursar música em 1980 e se especializou em piano. Caseira, sempre se dedicou à família, à música e à religião católica. Até hoje frequenta a Paróquia de Santo Antônio de Portão. Hoje, d. Albelina se diz plenamente feliz, pela vida e família construída.
Florisvaldo Soares de Azevedo, conhecido como seu Paizinho, tem 92 anos. Natural de Salvador, conheceu o samba de viola em 1950 em Portão, na festa de Santo Antônio, quando se encantou com o som e a dança. Quando veio morar no bairro, na rua Queira Deus, em 1960, aprendeu a arte com seu “Duzinho”, abraçou a viola se tornando um grande mestre em samba de viola de 12 cordas, animando os festejos juninhos, micaretas e outras festas populares no bairro. Um dos fundadores do Grupo de Samba de Viola de Portão, vem há décadas mantendo viva a tradição do estilo e instrumento. Admirado pela comunidade de Portão, que lhe devota carinho e respeito, ‘Paizinho’ é pura alegria e humildade.
Ester Maria da Conceição Oliveira, conhecida como d. Teté, tem 83 anos de Portão, onde nasceu e se criou. Desde a infância gostava muito de estudar e acalentava o sonho de ser professora. Na juventude, decide seguir a sua vocação e se tornou a primeira professora formada do bairro, iniciando-se no mundo acadêmico, dando aulas na escola Pedro Sá.
As irmãs, Maria José Brito Cruz, 84 anos, conhecida como d. Zezé, Damiana de Brito, 78 anos e Maria de Lurdes Brito Bispo, 70 anos, conhecida como Lurdinha, são apaixonadas pelo bairro, onde nasceram e se criaram. D. Zezé conta, com alegria que o que gostava de fazer quando jovem, era participar da reza do Santo Antônio, quando saia de manhã para rezar pela comunidade e só voltava no final do dia, e com ela ia Damiana. Lurdinha conta que tiveram uma infância muito tranquila, recheada de brincadeiras típicas da idade, junto com as outras crianças do bairro. Na juventude, lembram ter acompanhado algumas festas que aconteciam em Portão, como o Terno de d. Venú. Hoje, a alegria de Lurdinha se concentra em reunir os parentes, pois tem uma família muito unida.
Enervíria Franco Trindade, 88 anos, conhecida como Vivi. Moradora de Portão há mais de 60 anos, tendo passado a infância na fazenda de Pedro Sá. D. Vivi lembra, com alegria, da infância, dizendo que gostava muito de brincar, com as amigas de picula, quebra-pote e principalmente as canções de roda, que aconteciam durante a noite. Da juventude, recorda de importantes festas que aconteciam em Portão, como a festa dos Duques, quando a comunidade desfilava ao som de tambores e pandeiros e do Terno de Reis de d. Nicota.
Eremita Sena de Sá, 84 anos, conhecida como d. Ermita. Nascida e criada no bairro de Portão, ela relata ter tido uma infância muito feliz, cercada de brincadeiras com as crianças de sua rua. Na juventude, frequentou muitas festas populares do bairro. Sua preferida era o Terno de d. Nicota. Hoje, conta que sua grande paixão são os netos.
Marcelino Santana, 82 anos, conhecido por “Larinho”. Nasceu e reside até hoje em Portão. Trabalhou muitos anos como alfaiate, na antiga e saudosa Santo Amaro de Ipitanga, iniciando-se na profissão com apenas 8 anos de idade. Ele conta que tem muito orgulho de ser ‘filho’ de Portão e prazer pela sua carreira como alfaiate, pois era muito requisitado pela comunidade.